quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Alta em preços de alimentos deve continuar em 2011


Em relatório anual, FAO alerta que elevação de preços já afeta a balança comercial de cerca de 70 países


GENEBRA - Os preços de alimentos atingem a maior alta em dois anos e a FAO alerta que o aumento tem tudo para continuar em 2011. Em seu relatório anual publicado nesta quarta-feira, 17, a entidade advertiu que o mundo deve se preparar para um cenário de elevação de preços de alimentos, inflação e aponta que a elevação de preços já afeta de forma negativa a balança comercial de cerca de 70 países.

As primeiras projeções são de que os preços de alimentos devem sofrer uma elevação de até 20% em 2011 diante de safras abaixo do esperado e da especulação em torno das commodities.

Para a FAO, a conta da importação de alimentos no mundo irá superar a marca de US$ 1 trilhão em 2010, 26% a mais que no ano passado e atingindo praticamente os mesmos níveis dos anos da crise alimentar (2007-08). A projeção é a mais severa já feita pela FAO desde 2007, quando a alta nos preços de alimentos desestabilizou governos e levou milhares de pessoas a protestar em 25 países.

"Consumidores hoje não tem outra alternativa que a de pagar mais por seus alimentos. O tamanho da safra em 2011 está se tornando cada vez mais crítico. Para que os estoques sejam refeitos e para que os preços voltem à normalidade, uma expansão importante da produção será necessária", alertou a FAO. Para a entidade, "os países precisam continuar vigilantes sobre seus estoques".

Nos últimos meses, os preços do milho e trigo subiram em 40%. Cassava, manteiga e açúcar estão registrando seus maiores preços em 30 anos. Já a carne e pescado estão com seus preços acima de 2009. Isso sem contar com o algodão, com os maiores preços em 140 anos.

No geral, a inflação no preço de alimentos é de 15% em comparação a 2009. Especulação, problemas na safra russa e uma atividade forte no mercado futuro nas bolsas seriam as explicações. A FAO ainda alerta que tudo indica que essa alta nos preços de alimentos não fiquem contidas em seus setores e que poderão contaminar outras áreas da economia, entre elas a do etanol, e contribuir de forma importante para a inflação.

Há poucos meses, a FAO insistia que a situação de alimentos no mundo era preocupante, mas rejeitava falar em uma nova crise. Agora, a volatilidade dos mercados obriga a entidade a rever seus números e seu próprio discurso.

Em outubro, o índice de preços da FAO atingiu as taxas de julho de 2008. A produção de cereais em 2010 será 2% abaixo dos níveis de 2009 e 63 milhões de toneladas inferior ao que a FAO previa em junho. "Contrariamente à projeções anteriores, a produção mundial de cereais terá uma contração de 2%, e não uma expansão de 1,2% como se previa", afirmou.

Já a produção de grãos cairá em 7,2%, ao contrário do que a FAO previa há poucos meses, de uma expansão de 0,9%. A produção de trigo sofrerá uma queda de 5,1%, o que tornará a safra 2010-11 na menor em três anos. Como resultado, os estoques de trigo cairão em 10%.

A produção do milho também sofrerá uma retração de 2,1%, contra uma queda de estoques de 12%. Para a FAO, esse cenário deve fazer com que os preços aumentem ainda mais.

Para a soja, a projeção é de uma queda de 0,3%, mas a partir de uma safra recorde no mundo de 454 milhões de toneladas em 2009.

No setor do açúcar, porém, a perspectiva é de uma alta na produção de 7,7%. Isso porque a elevação nos preços já vinha ocorrendo nos últimos doze meses, incentivando produtores brasileiros e de outras regiões a aumentar a área plantada e direcionar a cana para o açúcar, e não para o etanol.

As reservas de alimentos também devem sofrer uma queda importante. Hoje, se o mundo inteiro parar de produzir alimentos, as reservas existentes seriam suficientes para alimentar a população do planeta por 74 dias. Para o início de 2011, a FAO alerta para uma queda severa dessa reserva. Entre os cereais, a queda deve ser de 7%, contra 12% no milho e 10% no trigo.

Segundo os especialistas, tudo agora depende de como serão as safras de 2011, inclusive a brasileira. "Os preços internacionais podem subir ainda mais se a produção em 2011 não aumentar de forma significativa, especialmente no milho, soja e trigo", alertou a FAO. "O mundo enfrenta tempos difíceis adiante se a produção de alimentos não aumentar", afirmou a entidade, que apela para que investimentos sejam feitos para garantir uma maior produção.

Por enquanto, porém, as projeções são sombrias. "2011 não será uma boa safra", alertou o relatório da FAO, que indica que nem EUA nem Rússia terão bons desempenhos.

Emergentes - Mas a entidade alerta que não é apenas safras abaixo do esperado que representam um desafio. Diante do consumo cada vez maior de alimentos em países emergentes, a era dos preços altos pode ter chegado para ficar.

Até 2017, a projeção é de que o preço da carne seja 20% superior ao que se paga hoje. O trigo terá uma alta de 60% em sete anos. Já óleos vegetais poderão custar até 80% mais caros até 2017. Nesse momento, a estimativa é de que então os preços de alimentos se estabilizem, mas em patamares elevados.

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