terça-feira, 30 de novembro de 2010

PT amplia guerra com PMDB para controlar Correios e Banco do Brasil

 A   GRANDE    COBIÇA INICIA-SE..,e ainda nem começou o novo governo!!!


Diante da perspectiva de comandar o Ministério das Comunicações, o PT planeja desalojar o PMDB da direção da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). O pedido será encaminhado pela cúpula do partido à presidente eleita, Dilma Rousseff.

A ideia, no entanto, é passar um verniz de ‘desloteamento’ político nos Correios para apresentar a reivindicação como uma tentativa de profissionalizar a estatal, alvo de uma sucessão de crises nos últimos meses.

A direção do PT aposta que o futuro ministro das Comunicações será Paulo Bernardo, atual titular do Planejamento, e já começou a vasculhar uma das chamadas joias da coroa. 

Há apenas quatro meses na presidência dos Correios, David José de Matos foi indicado pelo deputado Tadeu Filipelli (PMDB-DF), vice-governador eleito do Distrito Federal, mas também é amigo de Erenice Guerra, a ministra da Casa Civil que caiu em setembro, no rastro de acusações de tráfico de influência na pasta.

Mapa. Uma comissão formada por seis dirigentes do PT já começou a fazer o mapeamento dos cargos federais. A equação não é fácil de ser fechada porque o PT da presidente eleita Dilma Rousseff e o PMDB do futuro vice-presidente, Michel Temer (SP), dão cotoveladas em busca dos principais assentos para demarcar seus respectivos territórios. 

O Ministério das Comunicações está sob controle peemedebista e a sigla só aceita abrir mão do pasta se levar Transportes, hoje capitaneado pelo PR.

O assunto foi avaliado na segunda-feira, 29, em reunião de Dilma com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado Antonio Palocci, futuro chefe da Casa Civil. Desde setembro Bernardo atua como uma espécie de interventor nos Correios e faz um diagnóstico dos problemas da empresa, que não são poucos.

Banco do Brasil. Além de ocupar a cadeira mais importante dos Correios, o partido de Dilma também quer trocar o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendini. A maior instituição financeira do País tem ativos de R$ 725 bilhões. Sem levar em conta o PMDB, que está de olho na presidência do Banco do Brasil, uma ala do PT pretende emplacar ali o atual secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa.

Em conversas reservadas, porém, interlocutores de Dilma admitem que a escolha será resultado de uma disputa de bastidores entre Palocci e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantido no cargo. Tanto Mantega como Palocci, ex-ministro da Fazenda de 2003 a 2006, têm influência no banco.

Bendini chegou à cúpula do BB na cota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas até no Palácio do Planalto há quem defenda a sua saída, sob a alegação de que ele "não atende" as demandas políticas. Barbosa, por sua vez, tem cativado as tendências do PT. 

Na sexta-feira, o secretário fez uma exposição sobre a conjuntura econômica durante seminário promovido pela chapa petista "O partido que muda o Brasil" e encantou os espectadores com seu discurso na linha desenvolvimentista. A portas fechadas, Barbosa disse que a maior preocupação, no governo Dilma, é como manter o processo de crescimento com o cenário internacional adverso.

Apesar da cobiça do PMDB, a presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Maria Fernanda Ramos Coelho, deve ser mantida no posto. 



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Brasil tem um novo chefe da sua caixa-forte. Alexandre Tombini irá comandar o Banco Central com dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta da meta e contas externas cada vez mais no vermelho. Ele está à altura do desafio? Por Leonardo Attuch e Denize Bacoccina São pouco mais de 15h30 da quarta-feira 24 e o economista gaúcho Alexandre Tombini chega à sede do Centro Cultural Banco do Brasil, onde funciona a trincheira da transição, em Brasília. Passada firme, olhar seguro e uma única frase planejada sob medida para o evento. “Não existe meia autonomia”, disse Tombini. “Ela é total.” Do alto dos seus 120 quilos, o novo presidente do Banco Central se apresenta como um pit bull pronto para enfrentar dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta do centro da meta de 4,5% e um rombo crescente nas contas externas brasileiras – o déficit de US$ 50 bilhões que vem sendo projetado para este ano deve ser ainda pior em 2011. 47.jpg "Não existe meia autonomia no banco central. Ela é total" Alexandre Tombini, futuro presidente do BC A missão de Tombini, no entanto, vai além do campo macroeconômico. Ele também terá de provar que não será um presidente de Banco Central fraco, subordinado ao Ministério da Fazenda e aos desígnios da presidente eleita, Dilma Rousseff. Daí a necessidade de reafirmar sua liberdade para agir e decidir. E assim como não existe meia gravidez, também não pode haver autonomia pela metade, como pontuou o novo xerife da autoridade monetária. Alexandre Tombini, que é funcionário de carreira do Banco Central, poderia ter chegado ao topo de sua carreira livre do fardo de ter que provar que é independente. Mas as circunstâncias de sua escolha, lamentavelmente, o levaram a isso. Há pouco mais de uma semana, logo depois da confirmação de Guido Mantega como ministro da Fazenda, fontes próximas ao núcleo da transição vazaram a informação de que o atual presidente do BC, Henrique Meirelles, não seria apenas substituído por Dilma. Sua saída, que poderia ser absolutamente natural, foi tratada como uma demissão. Dilma teria ficado indignada com a suposta insinuação de que Meirelles só continuaria no governo se desfrutasse da mesma autonomia que teve nos oito anos de governo Lula. A partir de então, Meirelles passou a ser rifado dia e noite. “Sempre que alguém no governo tenta impor condições, perde a aposta”, disse à DINHEIRO o experiente economista Delfim Netto. 49.jpg Com os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, Alexandre Tombini irá compor o trio do conselho monetário nacional, que define as metas de inflação. Na foto ao lado, com Henrique Meirelles, de quem foi uma espécie de braço-direito no BC Não se sabe se Meirelles, de fato, tentou exigir qualquer coisa da presidente eleita, Dilma Rousseff. Mas o fato é que a autonomia do Banco Central no Brasil é apenas operacional e ainda não foi institucionalizada na lei – em outros países, como os Estados Unidos, presidentes e diretores têm mandatos fixos e não coincidentes com os dos governantes. Aqui, um chefe do BC pode ser demitido a qualquer momento pelo presidente da República. “Agora, vamos ter uma profecia autorrealizável”, disse à DINHEIRO um influente banqueiro de investimentos. “Como se criou incerteza, os juros no mercado futuro subiram e o Tombini terá que se mostrar mais duro do que seria necessário para se afirmar no BC.” A atual taxa de juros no Brasil é de 10,75%, mas, no mercado futuro, os contratos se aproximaram de 12% ao ano. E isso, em tese, poderia retardar o alcance da meta traçada pela presidente eleita, de atingir juros reais de 2% ao ano – hoje, eles estão próximos a 5,5%. Aos 46 anos, Tombini tem plenas condições de superar a turbulência inicial. Graduado pela Universidade de Brasília e com doutorado em Illinois, nos Estados Unidos, ele é considerado um macroeconomista de formação sólida e é tão ou mais conservador do que Meirelles. Os votos dos dois costumavam estar sempre alinhados nas reuniões do Comitê de Política Monetária. Além disso, no período em que cogitou deixar o BC para se lançar na carreira política, Meirelles sempre demonstrou preocupação em organizar a própria sucessão – Tombini era o seu candidato. “O nome de Tombini significa continuidade da atual gestão, pois ele ajudou a criar o regime de metas. Mas a continuidade não garante o mesmo resultado”, diz Rafael Cortez, analista da consultoria Tendências. Não se trata apenas de vencer o jogo das expectativas no mercado. Tombini também tem o desafio de suceder alguém que ficou oito anos no BC – Meirelles foi o mais longevo presidente da história da instituição – e se tornou um nome praticamente consensual aos olhos dos investidores. Além do mais, os resultados comprovam que sua gestão foi bem-sucedida. Ele herdou uma inflação em 12% e a entrega ao redor de 5%. O risco Brasil caiu de dois mil para os atuais 140 pontos, a moeda nacional se valorizou, o crédito disparou e a valorização dos ativos brasileiros esteve entre as maiores do mundo. 54.jpg Além disso, bom comunicador que é, Meirelles se tornou um protagonista da economia global, recebeu prêmios com frequência de entidades ligadas ao sistema financeiro, passou a dar conferências sobre a crise internacional e hoje integra o conselho do BIS, na Suíça, uma espécie de banco central dos bancos centrais. Tombini é bem mais tímido. Fala baixo, não gosta de conceder entrevistas e nunca divulgou seu currículo ou manteve qualquer perfil em redes sociais – mesmo as de caráter profissional, como o Linkedin. Seus colegas da UnB lembram-se apenas de um bom aluno, mas extremamente quieto e recatado. Flavio Versiani, que foi seu professor na graduação, lembra do futuro presidente do Banco Central como um bom aluno. “Ele se destacava. Lembro que à época me deixou uma impressão muito boa”, conta. O professor se recorda de quando o aluno deixou a Universidade de Brasília para estudar nos Estados Unidos para, depois, voltar à UnB como pesquisador. “Foi um dos que estudaram e teorizaram sobre o regime de metas. É um cara competente”, atesta. Também professor do departamento de economia da UnB, Charles Mueller conheceu Tombini em Illinois, quando o economista fazia seu doutorado na universidade local. “Ele foi considerado um aluno brilhante por lá. É um sujeito competente e de boa índole”, lembra Mueller. 53.jpg No trabalho, é afável, mas reservado e afeito a formalidades com os colegas. Quem já trabalhou com o economista o tem como um profissional meticuloso e flexível, porém firme na cobrança de resultados – sem pendores para arroubos ou grosserias. A padronização das tarifas bancárias, imposta às instituições financeiras pelo BC, a pedido do Ministério Público e de órgãos de defesa do consumidor, é também atribuída a um esforço pessoal de Tombini. “O banco não tinha muita gente interessada no assunto e ele mostrou sensibilidade”, avalia um antigo funcionário do BC. “Ganhou pontos com a ala desenvolvimentista.” Filho de um economista das Nações Unidas, Tombini nasceu na pequena cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul, mas passou a infância entre Paraguai, Guatemala, Costa Rica e Chile. Na adolescência, viveu em Porto Alegre, onde seguiu a tradição da família e se tornou torcedor fanático do Internacional. No fim dos anos 70, o pai, Tildo, foi trabalhar em Brasília e levou a família. Tombini ficou na capital, onde se formou em economia em 1984. Foi durante a temporada nos Estados Unidos que conheceu a americana Michele, com quem se casou. Eles têm dois filhos, hoje com 13 e 9 anos. No dia em que foi escolhido para o posto mais importante da sua carreira até agora, Tombini seguiu uma rotina normal: chegou à sede do Banco Central pouco depois das 9 horas e teve reuniões internas. 50.jpg Sede do BC, em Brasília Tombini chefiará 4,7 mil funcionários e estará à frente da política de aplicação das reservas de US$ 285 bilhões No meio da tarde, seguiu para o Centro Cultural Banco do Brasil, onde pouco antes das 17h fez um curto discurso. Com voz suave e em tom baixo, relatou uma conversa que teve com a presidente eleita, Dilma Rousseff, quando ela lhe garantiu que está comprometida com a autonomia operacional do Banco Central. Depois, voltou ao banco e continuou a trabalhar com a discrição de sempre. Sua indicação também representa uma vitória institucional – é a primeira vez que o BC tem uma diretoria formada exclusivamente por quadros de carreira, como ocorre em bancos centrais de muitos países de moeda forte, como o Bundesbank, da Alemanha. Tombini ainda terá que ser sabatinado pelo Senado, mas sua aprovação é tida como certa. Como guardião da moeda brasileira, ele terá que trazer o IPCA de novo ao centro da meta de 4,5%. O IGPM, anualizado, já aponta para uma inflação próxima a 10% ao ano, um território bem mais perigoso. “Os dados vêm mostrando que a alta não é só dos alimentos, mas há também uma piora nos núcleos, reflexo de inflação de demanda”, disse à DINHEIRO a economista-chefe no Brasil da RBS Global Banking & Market, Zeina Latif. O relatório Focus, resultado de pesquisa semanal do Banco Central com economistas do mercado financeiro, mostra alta na expectativa de inflação para este ano há dez semanas consecutivas. Em 17 de setembro, os analistas projetavam um IPCA de 5,01% neste ano. No dia 19, havia subido para 5,58%. No acumulado de 12 meses até outubro, o índice ficou em 5,20%. 55.jpg “A indústria está trabalhando com taxas de ocupação elevadas, e ainda temos desemprego baixo e massa salarial em expansão”, diz Aquiles Rocha de Farias, professor de economia e mercado financeiro do Ibmec. Ele aposta que na reunião de dezembro, que ainda será presidida por Meirelles, o Copom deverá aumentar a taxa de juros para atacar a inflação e reafirmar sua independência. O economista e consultor Roberto Troster também defende uma elevação da taxa de juros na última reunião do Copom no ano, logo no início de dezembro. “Quanto mais cedo se sofre, menor é o custo da alta. E Tombini assume com menos pressão”, considera. Mas nem todos têm a mesma expectativa. “O novo Banco Central terá o suporte político para elevar a taxa de juros nos primeiros meses do próximo governo?”, indaga Marcelo Salomon, economista-chefe para o Brasil do Barclays. O economista Delfim Netto, por sua vez, aposta que o “pudim de coco” está chegando ao fim. Ele se refere ao longo ciclo que o Brasil viveu como o País das mais altas taxas de juros do mundo. “Os investidores terão que começar a ganhar a vida honestamente”, diz ele. Na prática, Tombini terá de se equilibrar entre as expectativas dos que esperam um BC mais alinhado com o compromisso de reduzir os juros e daqueles que se dizem assustados com o ritmo da inflação. E sua credibilidade será construída mais pelas ações do que pelas palavras. Com reportagem de Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges Eles têm a missão de gastar (um pouco menos) Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges “É possível fazer mais com menos”, resumiu Miriam Belchior, na tarde da quarta-feira 24, quando foi apresentada como ministra do Planejamento do governo Dilma. A frase resume o tom de moderação nos gastos adotado pela equipe econômica do governo Dilma. A ordem é “pesar a mão” na contenção de despesas de custeio e liberar orçamento para investimentos e obras incluídas no PAC. A parcimônia inclui dois órgãos tradicionalmente gastadores: o Planejamento, que agora vai gerenciar as obras do PAC, com orçamento de R$ 1,59 trilhão até 2014, e o BNDES, financiador da política industrial do governo, que até outubro deste ano liberou R$ 140,9 bilhões. 51.jpg Miriam Belchior: À frente do Orçamento e com o cofre do PAC O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vai continuar no comando da instituição, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que o banco terá menos recursos do Tesouro. “Com isso, estamos abrindo espaço para que o setor privado possa fazer empréstimos de longo prazo”, disse Mantega, durante a apresentação da equipe na quarta-feira 24. O ministro calcula que o corte de R$ 20 bilhões no Orçamento de 2011 vai reduzir em pelo menos R$ 50 bilhões os repasses ao banco de desenvolvimento, que foi capitalizado em R$ 180 bilhões nos últimos dois anos. “Essa diminuição criará condições para queda mais rápida da taxa de juros”, completou. Depois de coordenar o PAC na Casa Civil, Miriam muda de cargo levando de baixo do braço a carteira de projetos para o Planejamento. Apesar de os investimentos do PAC serem prioridade nos gastos do governo, que pretende dobrar até 2014 a atual taxa de investimento público de 2,2%, ela também prometeu um esforço para segurar os gastos com a máquina administrativa. “Vamos ser parceiros da Fazenda na consolidação fiscal”, prometeu a futura ministra. 52.jpg Luciano Coutinho: Ele já foi avisado de que o BNDES terá menos recursos A indicação de Antônio Palocci para a Casa Civil, que até a noite da quinta-feira 25 ainda não havia sido confirmada oficialmente, reforça a percepção de contenção de gastos no futuro governo. Embora desidratado de algumas de suas funções atuais, como a coordenação do PAC, o posto deve conferir a Palocci a condição de homem forte do governo, encarregado da coordenação política e da relação da futura presidente com partidos aliados e da oposição. Tarefas que ele já vem desempenhando no período de transição.

O Brasil tem um novo chefe da sua caixa-forte. Alexandre Tombini irá comandar o Banco Central com dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta da meta e contas externas cada vez mais no vermelho. Ele está à altura do desafio?

Por Leonardo Attuch e Denize Bacoccina
São pouco mais de 15h30 da quarta-feira 24 e o economista gaúcho Alexandre Tombini chega à sede do Centro Cultural Banco do Brasil, onde funciona a trincheira da transição, em Brasília. 
Passada firme, olhar seguro e uma única frase planejada sob medida para o evento. “Não existe meia autonomia”, disse Tombini. “Ela é total.” Do alto dos seus 120 quilos, o novo presidente do Banco Central se apresenta como um pit bull pronto para enfrentar dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta do centro da meta de 4,5% e um rombo crescente nas contas externas brasileiras – o déficit de US$ 50 bilhões que vem sendo projetado para este ano deve ser ainda pior em 2011. 
 
47.jpg
"Não existe meia autonomia no banco central. Ela é total"
Alexandre Tombini, futuro presidente do BC
 
A missão de Tombini, no entanto, vai além do campo macroeconômico. Ele também terá de provar que não será um presidente de Banco Central fraco, subordinado ao Ministério da Fazenda e aos desígnios da presidente eleita, Dilma Rousseff. 
 
Daí a necessidade de reafirmar sua liberdade para agir e decidir. E assim como não existe meia gravidez, também não pode haver autonomia pela metade, como pontuou o novo xerife da autoridade monetária.
 
Alexandre Tombini, que é funcionário de carreira do Banco Central, poderia ter chegado ao topo de sua carreira livre do fardo de ter que provar que é independente. Mas as circunstâncias de sua escolha, lamentavelmente, o levaram a isso. 
 
Há pouco mais de uma semana, logo depois da confirmação de Guido Mantega como ministro da Fazenda, fontes próximas ao núcleo da transição vazaram a informação de que o atual presidente do BC, Henrique Meirelles, não seria apenas substituído por Dilma. 
 
Sua saída, que poderia ser absolutamente natural, foi tratada como uma demissão. Dilma teria ficado indignada com a suposta insinuação de que Meirelles só continuaria no governo se desfrutasse da mesma autonomia que teve nos oito anos de governo Lula. 
A partir de então, Meirelles passou a ser rifado dia e noite. “Sempre que alguém no governo tenta impor condições, perde a aposta”, disse à DINHEIRO o experiente economista Delfim Netto.
 
49.jpg
Com os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, Alexandre Tombini irá compor o trio do conselho monetário nacional,
que define as metas de inflação. Na foto ao lado, com Henrique Meirelles, de quem foi uma espécie de braço-direito no BC
 
Não se sabe se Meirelles, de fato, tentou exigir qualquer coisa da presidente eleita, Dilma Rousseff. Mas o fato é que a autonomia do Banco Central no Brasil é apenas operacional e ainda não foi institucionalizada na lei – em outros países, como os Estados Unidos, presidentes e diretores têm mandatos fixos e não coincidentes com os dos governantes. Aqui, um chefe do BC pode ser demitido a qualquer momento pelo presidente da República. “Agora, vamos ter uma profecia autorrealizável”, disse à DINHEIRO um influente banqueiro de investimentos. 
 
“Como se criou incerteza, os juros no mercado futuro subiram e o Tombini terá que se mostrar mais duro do que seria necessário para se afirmar no BC.” A atual taxa de juros no Brasil é de 10,75%, mas, no mercado futuro, os contratos se aproximaram de 12% ao ano. E isso, em tese, poderia retardar o alcance da meta traçada pela presidente eleita, de atingir juros reais de 2% ao ano – hoje, eles estão próximos a 5,5%.
 
Aos 46 anos, Tombini tem plenas condições de superar a turbulência inicial. Graduado pela Universidade de Brasília e com doutorado em Illinois, nos Estados Unidos, ele é considerado um macroeconomista de formação sólida e é tão ou mais conservador do que Meirelles. Os votos dos dois costumavam estar sempre alinhados nas reuniões do Comitê de Política Monetária. Além disso, no período em que cogitou deixar o BC para se lançar na carreira política, Meirelles sempre demonstrou preocupação em organizar a própria sucessão – Tombini era o seu candidato. 
 
“O nome de Tombini significa continuidade da atual gestão, pois ele ajudou a criar o regime de metas. Mas a continuidade não garante o mesmo resultado”, diz Rafael Cortez, analista da consultoria Tendências. 
 
Não se trata apenas de vencer o jogo das expectativas no mercado. Tombini também tem o desafio de suceder alguém que ficou oito anos no BC – Meirelles foi o mais longevo presidente da história da instituição – e se tornou um nome praticamente consensual aos olhos dos investidores.
 
Além do mais, os resultados comprovam que sua gestão foi bem-sucedida. Ele herdou uma inflação em 12% e a entrega ao redor de 5%. O risco Brasil caiu de dois mil para os atuais 140 pontos, a moeda nacional se valorizou, o crédito disparou e a valorização dos ativos brasileiros esteve entre as maiores do mundo.
 
54.jpg
 
Além disso, bom comunicador que é, Meirelles se tornou um protagonista da economia global, recebeu prêmios com frequência de entidades ligadas ao sistema financeiro, passou a dar conferências sobre a crise internacional e hoje integra o conselho do BIS, na Suíça, uma espécie de banco central dos bancos centrais.
 
Tombini é bem mais tímido. Fala baixo, não gosta de conceder entrevistas e nunca divulgou seu currículo ou manteve qualquer perfil em redes sociais – mesmo as de caráter profissional, como o Linkedin. Seus colegas da UnB lembram-se apenas de um bom aluno, mas extremamente quieto e recatado. Flavio Versiani, que foi seu professor na graduação, lembra do futuro presidente do Banco Central como um bom aluno. 
 
“Ele se destacava. Lembro que à época me deixou uma impressão muito boa”, conta. O professor se recorda de quando o aluno deixou a Universidade de Brasília para estudar nos Estados Unidos para, depois, voltar à UnB como pesquisador. 
 
“Foi um dos que estudaram e teorizaram sobre o regime de metas. É um cara competente”, atesta. Também professor do departamento de economia da UnB, Charles Mueller conheceu Tombini em Illinois, quando o economista fazia seu doutorado na universidade local. “Ele foi considerado um aluno brilhante por lá. É um sujeito competente e de boa índole”, lembra Mueller.
 
53.jpg
 
 
No trabalho, é afável, mas reservado e afeito a formalidades com os colegas. Quem já trabalhou com o economista o tem como um profissional meticuloso e flexível, porém firme na cobrança de resultados – sem pendores para arroubos ou grosserias. 
 
A padronização das tarifas bancárias, imposta às instituições financeiras pelo BC, a pedido do Ministério Público e de órgãos de defesa do consumidor, é também atribuída a um esforço pessoal de Tombini. “O banco não tinha muita gente interessada no assunto e ele mostrou sensibilidade”, avalia um antigo funcionário do BC. “Ganhou pontos com a ala desenvolvimentista.”
 
Filho de um economista das Nações Unidas, Tombini nasceu na pequena cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul, mas passou a infância entre Paraguai, Guatemala, Costa Rica e Chile. 
 
Na adolescência, viveu em Porto Alegre, onde seguiu a tradição da família e se tornou torcedor fanático do Internacional. No fim dos anos 70, o pai, Tildo, foi trabalhar em Brasília e levou a família. Tombini ficou na capital, onde se formou em economia em 1984. Foi durante a temporada nos Estados Unidos que conheceu a americana Michele, com quem se casou. Eles têm dois filhos, hoje com 13 e 9 anos.
 
No dia em que foi escolhido para o posto mais importante da sua carreira até agora, Tombini seguiu uma rotina normal: chegou à sede do Banco Central pouco depois das 9 horas e teve reuniões internas. 
 
50.jpg
Sede do BC, em Brasília Tombini chefiará 4,7 mil funcionários e estará
à frente da política de aplicação das reservas de US$ 285 bilhões
 
No meio da tarde, seguiu para o Centro Cultural Banco do Brasil, onde pouco antes das 17h fez um curto discurso. Com voz suave e em tom baixo, relatou uma conversa que teve com a presidente eleita, Dilma Rousseff, quando ela lhe garantiu que está comprometida com a autonomia operacional do Banco Central. 
 
Depois, voltou ao banco e continuou a trabalhar com a discrição de sempre. Sua indicação também representa uma vitória institucional – é a primeira vez que o BC tem uma diretoria formada exclusivamente por quadros de carreira, como ocorre em bancos centrais de muitos países de moeda forte, como o Bundesbank, da Alemanha.
 
Tombini ainda terá que ser sabatinado pelo Senado, mas sua aprovação é tida como certa. Como guardião da moeda brasileira, ele terá que trazer o IPCA de novo ao centro da meta de 4,5%. 
 
O IGPM, anualizado, já aponta para uma inflação próxima a 10% ao ano, um território bem mais perigoso. “Os dados vêm mostrando que a alta não é só dos alimentos, mas há também uma piora nos núcleos, reflexo de inflação de demanda”, disse à DINHEIRO a economista-chefe no Brasil da RBS Global Banking & Market, Zeina Latif.
 
O relatório Focus, resultado de pesquisa semanal do Banco Central com economistas do mercado financeiro, mostra alta na expectativa de inflação para este ano há dez semanas consecutivas. 
 
Em 17 de setembro, os analistas projetavam um IPCA de 5,01% neste ano. No dia 19, havia subido para 5,58%. No acumulado de 12 meses até outubro, o índice ficou em 5,20%. 
 
55.jpg
 
 
“A indústria está trabalhando com taxas de ocupação elevadas, e ainda temos desemprego baixo e massa salarial em expansão”, diz Aquiles Rocha de Farias, professor de economia e mercado financeiro do Ibmec. Ele aposta que na reunião de dezembro, que ainda será presidida por Meirelles, o Copom deverá aumentar a taxa de juros para atacar a inflação e reafirmar sua independência.
 
O economista e consultor Roberto Troster também defende uma elevação da taxa de juros na última reunião do Copom no ano, logo no início de dezembro. “Quanto mais cedo se sofre, menor é o custo da alta. E Tombini assume com menos pressão”, considera. Mas nem todos têm a mesma expectativa. 
 
“O novo Banco Central terá o suporte político para elevar a taxa de juros nos primeiros meses do próximo governo?”, indaga Marcelo Salomon, economista-chefe para o Brasil do Barclays. 
 
O economista Delfim Netto, por sua vez, aposta que o “pudim de coco” está chegando ao fim. Ele se refere ao longo ciclo que o Brasil viveu como o País das mais altas taxas de juros do mundo. 
 
“Os investidores terão que começar a ganhar a vida honestamente”, diz ele. Na prática, Tombini terá de se equilibrar entre as expectativas dos que esperam um BC mais alinhado com o compromisso de reduzir os juros e daqueles que se dizem assustados com o ritmo da inflação. E sua credibilidade será construída mais pelas ações do que pelas palavras.
 
Com reportagem de Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges
 
 
Eles têm a missão de gastar (um pouco menos)
 
Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges
 
“É possível fazer mais com menos”, resumiu Miriam Belchior, na tarde da quarta-feira 24, quando foi apresentada como ministra do Planejamento do governo Dilma. A frase resume o tom de moderação nos gastos adotado pela equipe econômica do governo Dilma.
 
A ordem é “pesar a mão” na contenção de despesas de custeio e liberar orçamento para investimentos e obras incluídas no PAC. A parcimônia inclui dois órgãos tradicionalmente gastadores: o Planejamento, que agora vai gerenciar as obras do PAC, com orçamento de R$ 1,59 trilhão até 2014, e o BNDES, financiador da política industrial do governo, que até outubro deste ano liberou R$ 140,9 bilhões.
 
51.jpg
Miriam Belchior: À frente do Orçamento e com o cofre do PAC
 
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vai continuar no comando da instituição, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que o banco terá menos recursos do Tesouro. 
 
“Com isso, estamos abrindo espaço para que o setor privado possa fazer empréstimos de longo prazo”, disse Mantega, durante a apresentação da equipe na quarta-feira 24. O ministro calcula que o corte de R$ 20 bilhões no Orçamento de 2011 vai reduzir em pelo menos R$ 50 bilhões os repasses ao banco de desenvolvimento, que foi capitalizado em R$ 180 bilhões nos últimos dois anos. “Essa diminuição criará condições para queda mais rápida da taxa de juros”, completou.
 
Depois de coordenar o PAC na Casa Civil, Miriam muda de cargo levando de baixo do braço a carteira de projetos para o Planejamento. Apesar de os investimentos do PAC serem prioridade nos gastos do governo, que pretende dobrar até 2014 a atual taxa de investimento público de 2,2%, ela também prometeu um esforço para segurar os gastos com a máquina administrativa. “Vamos ser parceiros da Fazenda na consolidação fiscal”, prometeu a futura ministra. 
 
52.jpg
Luciano Coutinho: Ele já foi avisado de que o BNDES terá menos recursos
 
A indicação de Antônio Palocci para a Casa Civil, que até a noite da quinta-feira 25 ainda não havia sido confirmada oficialmente, reforça a percepção de contenção de gastos no futuro governo. 
 
Embora desidratado de algumas de suas funções atuais, como a coordenação do PAC, o posto deve conferir a Palocci a condição de homem forte do governo, encarregado da coordenação política e da relação da futura presidente com partidos aliados e da oposição. Tarefas que ele já vem desempenhando no período de transição.

Sites de compras coletivas caem no gosto dos paulistanos


Yoi! Roll’s & Temaki, na Alameda Campinas: as promoções em restaurantes japoneses estão entre as mais procuradas
Yoi! Roll’s & Temaki, na Alameda Campinas: as promoções em restaurantes japoneses estão entre as mais procuradas
por Divulgação
O empresário Helio Poli está todo prosa. Há dez anos, ele abriu, ao lado de três sócios, a primeira unidade da rede de lanchonetes Big X Picanha, na Rua Henrique Schaumann. Desde então, não poupa investimentos na exposição da marca em propagandas de TV e anúncios em jornais e revistas. Jamais vivenciou, porém, fenômeno parecido com o do último dia 29 de outubro. Nessa data, o site de compras coletivas Peixe Urbano pôs no ar uma oferta da lanchonete: sanduíche e petit gâteau de 26,80 reais por 7,90 reais. “De tantos acessos, a página travou”, conta Poli. Em dezessete horas, 30 512 cupons promocionais foram vendidos. Trata-se do caso de maior sucesso no setor de gastronomia entre os sites do gênero, que oferecem a uma base de usuários cadastrados descontos de até 90% em restaurantes, hotéis, peças de teatro e massagens, entre outros.
Para desfrutar o serviço, deve-se pagar, imprimir um cupom e entregá-lo no estabelecimento. “Sabia que tinha condições de ser o recordista”, diz Poli. “Pesquisei muito antes de entrar nessa.” Ele levou seis meses até tomar a decisão de cair na rede dos descontos on-line. Para dar conta de receber tanta gente, contratou quarenta funcionários extras para as quatro lanchonetes de rua (a promoção não valia em dezesseis unidades franqueadas). 
Fernando Moraes
Helio Poli, na unidade do Big X Picanha no Tatuapé: quarenta funcionários extras para atender à demanda
Helio Poli, na unidade do Big X Picanha no Tatuapé: quarenta funcionários extras para atender à demanda
As páginas de descontos vêm se multiplicando em ritmo acelerado. Pioneiro no Brasil, o Peixe Urbano estreou no Rio de Janeiro oito meses atrás. Logo desembarcou em São Paulo seguido por alguns concorrentes. Há dois meses, entre trinta e quarenta sites do tipo estavam no ar. “Hoje, já são mais de 100, todos eles com operações na capital”, afirma o publicitário Guilherme Wroclawski, criador do SaveMe, espécie de agregador de ofertas que ajuda o internauta a checar com maior praticidade as dezenas de promoções diárias lançadas on-line na cidade.
Segundo pesquisa do Ibope Nielsen Online, as páginas de compras coletivas atingiram 5,6 milhões de usuários únicos no mês de setembro — um crescimento de 231% em relação a junho. A expectativa é que as empresas fechem o ano com cerca de 7 milhões de usuários, mais de 2 milhões deles em São Paulo. Até dezembro, o setor deve movimentar 80 milhões de reais. Em 2011, espera-se alcançar a casa dos 500 milhões de reais. 
O TESTE DOS DESCONTOS NOS RESTAURANTES
Entre quinta (18) e terça (23), visitamos seis casas paulistanas que anunciaram promoções em sites nas últimas semanas

Juntas, as três maiores empresas, ClickOn, Groupon e Peixe Urbano, detêm 90% do mercado. Cada uma chama para si o título de número 1 valendo-se de métricas variadas (número de cadastrados, de visitas únicas, faturamento...). Diante da concorrência acirrada, elas disputam mordida a mordida a fatia mais saborosa desse mercado: os restaurantes, cafeterias, sorveterias, bares e lanchonetes. Lugares como Forneria San Paolo, Nakombi, 1900, Piola, Quattrino e Applebee’s já incluíram as promoções em seu cardápio. Seguidas de perto pelas pizzarias, as casas de comida japonesa são as que fazem mais sucesso entre os paulistanos.
Mas fechar negócio com alguns desses estabelecimentos requer tempo e habilidade. Primeiramente, a equipe comercial do site, responsável por rastrear endereços interessantes, tenta um contato telefônico com o proprietário. Liga insistentemente até conseguir marcar uma reunião. “Ao vivo, a argumentação funciona melhor”, acredita Ricardo Bottura, representante de vendas do Peixe Urbano. Durante a negociação, é preciso acertar questões importantes como o preço, o limite de cupons e os dias da semana em que a promoção será válida. 
Fernando Moraes
Parceria: Ricardo Bottura, vendedor do Peixe Urbano, negociou pizzas de 49,90 reais por 15 reais com Franco Ravioli, da Pizza Bros.
Parceria: Ricardo Bottura, vendedor do Peixe Urbano, negociou pizzas de 49,90 reais por 15 reais com Franco Ravioli, da Pizza Bros.
Firma parceria o site que apresentar a melhor proposta. Peixe Urbano e Groupon, por exemplo, utilizam o mesmo modelo de negócio: dividem o valor da oferta vendida meio a meio com o estabelecimento. Já o ClickOn cobra 30% de comissão. “Acima de tudo, trata-se de uma ferramenta de marketing”, explica Marcelo Macedo, CEO do ClickOn, empresa que opera também o site de compras coletivas Bananarama, da Editora Abril, que publica VEJA SÃO PAULO. Os restaurantes dificilmente perdem dinheiro com a promoção. Quem vai gasta com bebida e outros produtos e pode levar ainda um acompanhante, o que acaba equilibrando a conta. 
Fernando Moraes
A representante do P.J. Clarke’s no Brasil, Maria Rita Pikielny: forma alternativa de divulgação
A representante do P.J. Clarke’s no Brasil, Maria Rita Pikielny: forma alternativa de divulgação
O vendedor Ricardo Bottura precisou de lábia para convencer Franco Ravioli, proprietário da Pizza Bros., no Itaim Bibi, a bater o martelo. No início de outubro, anunciaram uma pizza grande de 49,90 reais por 15 reais. Exatos 4 728 cupons foram vendidos. “Cerca de 20% das pessoas já retornaram”, comemora Ravioli.
Para que a ação pontual tenha como consequência o aumento de movimento a longo prazo, o restaurante deve caprichar no atendimento e na qualidade do serviço. Representante do P.J. Clarke’s no Brasil, Maria Rita Pikielny usa os sites de desconto para divulgar novidades. Isso porque a matriz americana, fundada há 126 anos em Nova York, não permite nenhum tipo de publicidade paga. “Encontrei aí uma alternativa”, afirma. Em junho, ela ofertou o recém-lançado café da manhã nos fins de semana (de 30 reais por 15 reais) no Imperdível. Comercializou 220 vouchers — número multiplicado por dez em sua segunda promoção, em parceria com a mesma empresa, três meses depois. Na ocasião, vendeu 2 200 hambúrgueres, de 34,90 reais por 17 reais. Em breve, Maria Rita pretende anunciar os drinques e petiscos do bar inaugurado no fim de outubro. “Será uma maneira de atrair esse público de internet, jovem e antenado.” 
Fernando Moraes
Consumidora voraz: a advogada Patrícia Jardim usa planilhas e pastas para organizar seus 194 cupons
Consumidora voraz: a advogada Patrícia Jardim usa planilhas e pastas para organizar seus 194 cupons
De acordo com os dados do Ibope Nielsen Online, a idade dos internautas que acessam sites de compras coletivas varia de 25 a 34 anos. Em número de usuários únicos, mulheres e homens praticamente empatam. Mas cerca de 70% das compras convertidas são de responsabilidade delas.
Cadastrada em 23 páginas de compras coletivas, a advogada Patrícia Gomes Jardim gasta cerca de 1 000 reais por mês com a brincadeira e, até o último dia 19, havia comprado sozinha nada menos do que 194 cupons. “Antes, fazia sempre os mesmos programas banais, vivia no shopping”, diz. “Agora conheço muito mais lugares.” Para organizar seus compromissos, Patrícia criou planilhas diferentes no computador para cada um dos sites. Nas tabelas, digita o número de vouchers comprados, o serviço adquirido, o preço, a data de expiração e até a avaliação do atendimento. Sem contar as três pastinhas coloridas que mantém sempre à mão na mesa de seu escritório. Na verde, Patrícia coloca os cupons logo depois de imprimi-los. Na amarela, guarda aqueles cuja utilização está agendada (por exemplo, o de um restaurante onde fez reserva). Por fim, na vermelha, arquiva cartões e folhetos de estabelecimentos de que gostou. 
Fernando Moraes
O empresário Cristiano Morozino: almoços mais em conta com a turma do escritório
O empresário Cristiano Morozino: almoços mais em conta com a turma do escritório
Patrícia tem uma queda por ofertas gastronômicas. Mas é eclética. “Já comprei mapa astral, curso de etiqueta e um cruzeiro de três dias”, diverte-se. Mais comedido, o empresário Cristiano Morozino tem conseguido fazer bonito perante seus funcionários sem extrapolar o orçamento. Pelo menos uma vez por mês, reúne toda a equipe de sua agência especializada em web para um almoço conjunto. Dia desses, foram à lanchonete Achapa, nos Jardins. Aproveitaram a promoção do Clube do Desconto e pagaram 5 reais para consumir 18 reais em qualquer item do menu. “A economia é considerável, sobretudo para um grupo grande.” 
Fernando Moraes
Henri Zylberstajn, André Zukerman e Ivan Martinho, criadores do Bom Proveito: apenas ofertas gastronômicas
Henri Zylberstajn, André Zukerman e Ivan Martinho, criadores do Bom Proveito: apenas ofertas gastronômicas
Explorar a cidade a preços convidativos. Está aí a vantagem das compras coletivas para o consumidor. Porém, como se trata de uma aquisição motivada também pelo impulso, deve-se ficar atento a alguns fatores. A aceitação desse tipo de negócio por aqui surpreendeu os executivos do Groupon, empresa americana líder mundial do setor, fundada em 2008 e presente em mais de 200 cidades. Para eles, São Paulo representa hoje o terceiro mercado do planeta, atrás de Paris e Londres.
“Ao contrário do americano, o brasileiro não tinha a cultura de usar cupons de descontos”, afirma Daniel Funis, diretor de marketing do braço brasileiro do site, instalado na Avenida Paulista, onde trabalham 160 funcionários. “Mesmo assim, o sistema acabou adotado aqui com uma velocidade única.” Com o esquema popularizado, a proliferação das páginas foi questão de tempo. Além das já citadas anteriormente, destacam-se entre as maiores Oferta Única, CityBest, Oferta X, Groupalia, Click Cupom e Tripular. 
Fernando Moraes
Marcelo Macedo, CEO do ClickOn: 77 000 vouchers vendidos por mês na cidade
Marcelo Macedo, CEO do ClickOn: 77 000 vouchers vendidos por mês na cidade
Em meio a tantas opções, três jovens empresários paulistanos encontraram um modo de se diferenciar. André Zukerman, Henri Zylberstajn e Ivan Martinho aproveitaram a expertise adquirida com a companhia de leilões on-line que mantêm há três anos para criar o Bom Proveito, apenas com ofertas gastronômicas. “Queremos ser uma espécie de butique dos sites de compras coletivas”, afirma Zukerman. Para alcançarem o objetivo, eles buscam parceiros comerciais de interesse das classes A e B e promovem treinamento nos bares, restaurantes e cafés para orientar gerentes e garçons sobre o atendimento ao cliente. “A segmentação é o futuro desse tipo de negócio”, acredita Zylberstajn. Empolgado com o sucesso, Helio Poli, o novo rei dos sanduíches on-line, concorda. “Estou pensando até em criar um site nosso, tipo um Big X Picanha Urbano.” Pelo visto, muitas ofertas degustação ainda vêm por aí. E de bandeja.
PARA O BARATO NÃO SAIR CARO
Fique atento às dicas dos especialistas e evite cair em roubadas
Na hora da compra coletiva
■ Busque indicações de outras pessoas que possam atestar a credibilidade do site
■ Leia atentamente os termos de uso antes de aceitá-los e completar o cadastro na página
■ Informe-se sobre a política de privacidade da empresa para saber como os dados pessoais fornecidos serão utilizados
■ Cheque se a página de pagamento opera em ambiente de navegação seguro e possui certificados digitais de segurança
■ Esteja ciente das limitações impostas antes de pagar. Ressalvas ao uso do serviço com desconto (dia da semana, horário, validade etc.) devem ser informadas previamente
■ Verifique a prática da empresa em caso de desistência da compra. Por lei, para aquisições efetuadas via internet há o chamado “direito de arrependimento”, que garante ao consumidor o prazo de sete dias para exigir o cancelamento do serviço e a devolução do dinheiro sem prestar nenhuma justificativa
■ Toda empresa deve manter um canal de comunicação com o consumidor, seja por e-mail, seja por telefone
No restaurante
■ Se o estabelecimento se recusar a receber o cupom, a empresa que intermediou a compra coletiva responderá pela recusa
■ Cabe ao restaurante cumprir as condições prometidas. Caso isso não ocorra, pode-se denunciá-lo aos órgãos de proteção e defesa do consumidor, exigir ressarcimento e, em alguns casos, indenização
■ O valor do cupom (pago via internet) deve vir descrito na nota fiscal e ser abatido na hora do pagamento da conta. O voucher não tem valor fiscal
Fontes: Patricia Peck Pinheiro, advogada especialista em direito digital, e Sérgio Tannuri, advogado especialista em direito do consumidor

CLIQUE A CLIQUE
Entenda como começar a fazer suas compras coletivas
■ Cada site lança, em média, duas ofertas diárias. São promoções-relâmpago, que ficam no ar de um a três dias
■ Antes de realizar uma compra, é necessário se cadastrar. As empresas costumam enviar e-mails com as oportunidades do dia para sua base de clientes
■ Gostou da oferta? Leia atentamente o regulamento e, se estiver de acordo, clique no botão de compra
■ Os usuários precisam efetuar o login para prosseguir. Chega-se, então, à página de pagamentos (nesse momento, um novo cadastro dos dados pessoais
pode ser solicitado)
■ Em geral, paga-se com cartão de crédito. Alguns sites oferecem a opção de realizar uma transferência bancária
■ Para que a venda seja concluída é necessário reunir um número mínimo de compradores (por isso o conceito de compra coletiva)
■ Por e-mail, o usuário recebe a confirmação de pagamento e o cupom. Dependendo da empresa, ele pode ficar disponível em alguns minutos, no dia seguinte ou em até dois dias
■ Deve-se imprimir o cupom e entregá-lo no estabelecimento para aproveitar o serviço