segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Eles se destacaram em 2010

Escolhidas por VEJA RIO, as doze personalidades que marcaram a história da cidade em diferentes áreas de atuação: negócios, educação, cultura, esporte... Suas trajetórias são modelos de determinação e talento, exemplos que merecem ser reconhecidos e copiados



Atriz

Mariana Ximenes

Com o mesmo ar angelical com que interpretou heroínas no passado, a atriz brilha como uma das mais surpreendentes vilãs já vistas na TV brasileira


Com o rosto simétrico e belíssimo, cabelos louros naturais, olhos azuis e pele alva, Mariana Ximenes possui um conjunto de características que em Holywood costuma ser definido como star quality — uma rara combinação de talento, beleza estonteante e carisma. Aos 29 anos e um currículo de dez novelas, duas minisséries, quatro peças e catorze filmes, a atriz sempre se destacou em suas performances. A consagração absoluta, no entanto, veio neste ano, com Passione. Em sua primeira experiência como vilã, ela roubou os holofotes e eclipsou desde colegas da mesma faixa etária até veteranas da TV e do teatro com quem contracena. “Essa personagem veio no momento certo da minha vida”, avalia. Sem dúvida, trata-se do maior desafio de sua carreira. Em outras ocasiões ela conseguiu driblar o tédio que as mocinhas provocam na audiência e brilhou na pele da órfã Ana Francisca, em Chocolate com PimentaA Favorita (2008). Dessa vez era diferente. Mariana precisava construir a ardilosa Clara sem usar como referencial a própria experiência. E fez isso de maneira muito competente, com nuances que vêm hipnotizando o público. O primeiro passo foi fugir do estereótipo da moça malvada. Acostumada a mudar o corte de cabelo para compor heroínas, agora fez o oposto. Preservou a aparência angelical para se contrapor ao caráter maquiavélico do papel. Foi tão bem-sucedida que os telespectadores torcem para que a “Chiara” — como é chamada na trama por Totó, interpretado pelo ator Tony Ramos — se regenere. Moradora do Rio desde os 17 anos, a atriz, nascida em São Paulo, mantém uma rotina intensa. Além das horas e horas de gravação, frequenta galerias de arte, adora restaurantes com vista panorâmica, já fez aulas de surfe e organiza seu tempo para não deixar de dar um mergulho no mar, pelo menos uma vez por semana. “Fui acolhida de forma muito generosa pelos cariocas”, diz. (2003), e da estudante Lara, em


Ator

Mateus Solano

Com habilidade e sutileza, ele encarou o desafio de viver uma estreia em dose dupla no horário nobre. Convenceu

Interpretar gêmeos em uma novela não é exatamente novidade para atores e atrizes de talento. A história da teledramaturgia brasileira tem dezenas de exemplos, alguns brilhantes. É nessa categoria que se enquadra Mateus Solano, que, durante o ano de 2010, fez ótima figura como os briguentos Jorge e Miguel em Viver a Vida, de Manoel Carlos. Como não se tratava do velho clichê do irmão bom versus o irmão mau, foi preciso razoável dose de habilidade técnica e sutileza na composição dos personagens para destacar as diferenças entre os mocinhos imperfeitos criados pelo autor. O resultado foi um trabalho irretocável, surpreendente desde os primeiros capítulos e que o coloca entre os melhores profissionais de sua geração. “Alguns telespectadores mais desatentos chegaram a pensar que havia dois atores em ação. Existe reação melhor?”, indaga Solano, 29 anos. Nascido em Brasília e radicado no Rio desde criança, ele deu sinais de seu potencial logo na primeira aparição de destaque. Sua atuação como o músico Ronaldo Bôscoli na minissérie Maysa — Quando Fala o Coração, em 2009, mostrou que ele poderia encarar um protagonista (no caso, dois). Filho de diplomata, formado em artes cênicas pela UniRio, o jovem tem uma forte ligação com o teatro. Antes de se tornar um rosto nacionalmente conhecido, atuou em quase trinta peças. Entre as mais marcantes está a polêmica montagem de Hamlet, de Shakespeare, protagonizada por Wagner Moura e com direção de Aderbal Freire-Filho. Embora seja novo, sua experiência atrás das câmeras é longa. Ele já foi contrarregra, iluminador, cenógrafo, figurinista e sonoplasta. Agora, limita-se a ser protagonista. O sucesso dos gêmeos que disputavam o amor da bela e mimada Luciana (Alinne Moraes) lhe garantiu um papel principal em Dinossauros e Robôs, título provisório da próxima trama das 7, de Walcyr Carrasco, que estreia no início de 2011.


Defensor da cidade

Ricardo Loureiro

Mesmo habituado a situações de alto risco, o comandante da tropa de elite dos bombeiros teve seu sangue-frio posto à prova com a sucessão de desastres naturais que aconteceu neste ano

Fernando Lemos
Disciplinado, corajoso, altruísta. O tenente-coronel Ricardo Loureiro, de 42 anos, encarna algumas das qualidades que transformam o homem comum em um herói. Acostumado a arriscar a própria pele em situações-limite, ele comanda os 174 soldados e oficiais do Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), a tropa de elite do Corpo de Bombeiros estadual. Neste ano, a unidade ganhou evidência após uma infeliz sucessão de tragédias naturais — cujos resultados poderiam ter sido ainda piores caso o grupo não estivesse em ação. Sob as ordens de Loureiro, o pelotão passou os primeiros dias do ano socorrendo as vítimas dos deslizamentos da Ilha Grande e de Angra dos Reis. Com igual valentia, enfrentou a sequência de desabamentos que se espalhou pelo Grande Rio no fatídico temporal de abril, entre eles o horripilante desastre do Morro do Bumba, em Niterói. As cenas da favela tragada por uma montanha de lixo, que matou 48 pessoas, ainda hoje o impressionam. “Os moradores vagavam desnorteados diante do sumiço de parentes e casas, sob uma quantidade colossal de detritos”, lembra o comandante. Não foi o primeiro cenário de caos que Loureiro testemunhou. Três meses antes, havia passado por outra experiência desafiadora: chefiar a missão brasileira destacada para atuar no terremoto do Haiti. Durante 21 dias, o comandante e seus homens fizeram mais de sessenta resgates, três deles envolvendo sobreviventes. Loureiro jamais esquecerá os gritos de “Brasil, Brasil” vindos da multidão que acompanhava o salvamento de uma enfermeira que estava soterrada havia três dias — e retirada com vida dos escombros. “Por alguns instantes, aquela gente faminta e sedenta esqueceu o sofrimento e vibrou”, recorda. “Mesmo com os anos e a experiência, é impossível não se emocionar em momentos assim.” Perigo, bravura e aplausos. Cenas típicas na rotina de um fora de série.


Produtora cultural

Carla Camurati

Com vasta experiência no cinema e no teatro, ela comandou a obra que devolveu ao Rio o seu maior símbolo cultural

Silvana Marques

Habituada a enfrentar percalços e obstáculos, a atriz, diretora, administradora e produtora cultural Carla Camurati concluiu em 2010 a mais desafiadora empreitada de sua carreira. No dia 1º de maio, depois de dois anos e meio de obras e de um investimento de 70 milhões de reais, o Theatro Municipal reabriu suas portas com o mesmo esplendor que exibia no dia de sua inauguração, em 14 de julho de 1909. Presidente da fundação que administra a casa, Carla se empenhou pessoalmente em cada detalhe do projeto. Ao ser devolvido à cidade, o templo das artes cênicas renascia com cada metro quadrado de sua estrutura restaurado, das pinturas no teto às poltronas de veludo, passando pelos milhares de pingentes de cristal das luminárias e pela imponente águia dourada pousada em sua cúpula. “Foi duro adiar duas vezes a reabertura, mas praticamente descobrimos outro teatro com a reforma”, conta Carla, que acaba de completar 50 anos de idade e trinta de carreira artística.

A faceta de gestora de obras foi apenas uma das várias que exibiu no decorrer do ano. Há dois meses, dirigiu 250 artistas, entre músicos, bailarinos e cantores, na caprichada montagem da ópera Romeu e Julieta, do francês Charles Gounod (1818-1893), baseada na peça de William Shakespeare. No mês passado, assinou a primeira audição brasileira de outra peça operística, O Caso Makropulos, do checo Leos Janacek (1854-1928). Em paralelo, esteve ainda à frente da oitava edição do Festival Internacional de Cinema Infantil (Fici), que trouxe mais de noventa filmes ao Rio e contou com mostras realizadas em outras oito cidades do país, entre agosto e outubro. A sétima arte, por sinal, é mais que uma paixão para Carla. Foi atrás das câmeras, durante a realização de Carlota Joaquina — Princesa do Brasil, de 1995, que descobriu seu talento não apenas para a direção como também para o gerenciamento. “Ao mesmo tempo em que tinha de provar que podia dirigir, precisei aprender na marra a tocar uma produção”, diz. Hoje, como sócia da Copacabana Filmes, participa da finalização do documentário Amor?, dirigido pelo marido, João Jardim — pai de seu filho Antônio, de 7 anos —, e se prepara para as filmagens de Os Últimos Dias de Getúlio, também rodado por ele.



Empresário

Olavo Monteiro de Carvalho

Bem-sucedido no mundo dos negócios, o representante de uma das famílias mais conhecidas da cidade abraçou uma causa nobre: atrair investimentos para o Rio

Selmy Yassuda

Ele podia ficar recolhido em casa — e que casa —, uma suntuosa mansão fincada em um terreno de 100 000 metros quadrados no bairro de Santa Teresa. Expoente da terceira geração de uma tradicional família da sociedade carioca, o líder do grupo Monteiro Aranha, Olavo Egydio Monteiro de Carvalho, 68 anos, abraçou uma missão pela nobreza da causa. Convidado pelo prefeito Eduardo Paes, o empresário é, desde julho, presidente do conselho gestor da Rio-Negócios. Trata-se de uma agência de desenvolvimento nos moldes da britânica Think London, criada para promover a cidade e atrair investidores. Dono de um faro apurado para transações comerciais e com uma extensa agenda de contatos, Olavo é perfeito para a função de embaixador informal da cidade. Seu poder de sedução e as tiradas certeiras são marcas das recepções que realiza. Uma das últimas contou com a presença do magnata francês François-Henri Pinault, que comanda a holding detentora das marcas Puma e Gucci. “Na verdade, ele veio passear”, conta o anfitrião. “Mas, após a nossa apresentação, voltou convencido da necessidade de apostar por aqui.”

Não foi o primeiro a se encantar com a persuasão de seu interlocutor. Potenciais investidores, já arregimentados, acenam com aplicações na faixa de 1,3 bilhão de reais e a criação de 4 700 empregos. Na quarta passada (10), a General Electric (GE) anunciou a construção de seu centro de pesquisa na Ilha do Fundão. A IBM também deve instalar um complexo semelhante por aqui. “Queremos mostrar que, além de um ótimo lugar para passar férias, a cidade é um excelente centro de negócios”, diz. O amor pelo Rio, por sinal, tem ocupado espaço crescente em sua apertada agenda. Em 2005, assumiu a Associação Comercial com o intuito de dar nova relevância à casa. Pouco depois, engajou-se na campanha para eleger o Cristo Redentor uma das sete novas maravilhas do mundo. Foram duas iniciativas bem-sucedidas. “Gosto de ajudar”, afirma ele, em uma varanda com vista para o Corcovado e o Pão de Açúcar.





Escritora

Thalita Rebouças

Com 800 000 exemplares vendidos, a escritora cultuada pelas adolescentes chegou à TV e terá sua primeira obra adaptada para o cinema


Ela é um caso raro de escritora brasileira com tratamento de pop star. Basta vê-la em eventos públicos, sempre cercada de seguranças e com uma algazarra de admiradoras em volta. As tardes de autógrafos em feiras e bienais são o melhor termômetro do fascínio que a moça provoca nas adolescentes. Filas enormes se formam em questão de segundos e o clima é de histeria total. Thalita Rebouças, 36 anos, virou um fenômeno desde que trocou o jornalismo pelos livros. Todas as suas dez publicações ao longo de uma década de carreira atingiram neste ano a casa dos 800 000 exemplares vendidos. Para depois do Natal, a expectativa é que esse número chegue a 1 milhão. Com seus textos curtos e concisos, desprovidos de maiores veleidades estilísticas, Thalita conquistou uma legião de fãs. As histórias da menina Malu, sua principal personagem, se fixam nas preocupações típicas do universo infantojuvenil, principalmente o relacionamento com pais, amigos, professores e namorados. Toda essa popularidade acabou lhe rendendo um emprego na TV Globo. Ela comanda um quadro no Video Show dedicado, é claro, ao público teen. Recentemente, enquanto gravava uma reportagem sobre a banda Restart em uma casa de shows carioca, Thalita teve a exata noção do sucesso. Ao notar sua presença em um camarote, a plateia começou a gritar a ponto de a gravação ter de ser interrompida. “Nunca imaginei uma cena assim. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida”, confessa. Thalita tem títulos publicados em Portugal, onde comprou um apartamento, e negocia com editoras da Inglaterra, Espanha e Itália. Uma de suas obras, Uma Fada Veio Me Visitar, vai virar filme sob a direção de José Henrique Fonseca. Na quinta (18), ela autografa seu 11º título, Ela Disse, Ele Disse, na Livraria Travessa do Shopping Leblon. Meninas, preparem-se para a fila.




Personalidade esportiva

Joel Santana

À frente do desacreditado Botafogo, o técnico conquistou seu oitavo título estadual e luta agora por uma vaga na Libertadores. Bonachão, piadista, ele já treinou todos os times do Rio. Sempre com sucesso

Selmy Yassuda

Emérito frasista, o treinador Joel Santana dispara: “Não tem para Romário nem para Renato Gaúcho. Eles são os príncipes, mas o rei do Rio sou eu”. A afirmação tinha tudo para soar arrogante. Mas, dita por ele, perpassa uma fanfarronice simpática. Diante do currículo vitorioso, é difícil encontrar argumentos para contestar a nobreza reivindicada por este carioca de 61 anos, nascido em Olaria e morador de Copacabana. Em 2010, depois de uma passagem pela seleção da África do Sul, ele coroou seu retorno ao futebol local com seu oitavo título estadual — só Flávio Costa, treinador entre as décadas de 30 e 60, ganhou mais competições aqui, com nove taças. Joel assumiu um Botafogo sem grandes estrelas e destroçado após a goleada de 6 a 0 que levou do Vasco. Três meses depois, a equipe dava a volta olímpica no Maracanã ao bater o Flamengo de Adriano e Vagner Love, interrompendo a hegemonia de três anos do adversário. A boa fase se manteve no Campeonato Brasileiro. O alvinegro disputa ponto a ponto uma vaga na Copa Libertadores da América, reservada aos quatro primeiros colocados. Em uma cidade dividida pela rivalidade, ele goza de raro prestígio entre torcedores do Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. É o único comandante a dar pelo menos um título carioca a cada um. Santana também livrou o Flamengo de um rebaixamento dado como certo pelos matemáticos no Campeonato Brasileiro de 2005. Conhecido como Papai Joel, devido a seu estilo um tanto protetor com os jogadores, ele revela que faz pequenas adaptações nos clubes em que passa. “O Vasco é o mais afeito às tradições”, afirma. “No Flamengo, você pode conversar com todo mundo e andar mais à vontade.” O jeito bonachão ajuda a conquistar fãs insuspeitos, alheios aos estádios. Neste ano, foi homenageado na Câmara dos Vereadores e na Academia Brasileira de Letras. Ele explica a boa fase com uma de suas impagáveis comparações. “Volta e meia, sopram a minha vela”, diz. “Ela quase se apaga, dá uma baqueada, mas a chama logo volta a queimar forte, vistosa.” Isso é Joel.




Trabalho social

Iolanda Maltaroli

Com a pacificação de morros em Copacabana, a ONG Solar Meninos de Luz, projeto da educadora, recebeu novos doadores e ganhou visibilidade

Selmy Yassuda

Ainstalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, que completa um ano em dezembro, não acabou apenas com a rotina de tiroteios e o domínio do tráfico na região. Com a volta da normalidade, o trabalho silencioso da ONG Solar Meninos de Luz, há vinte anos instalada na entrada do primeiro morro, ganhou visibilidade e atraiu novos colaboradores. A instituição propicia educação em período integral até o fim do ensino médio para 400 alunos, além de aulas de idiomas, dança, informática, teatro, fotografia. À frente do projeto está uma senhora de 71 anos, dedicada desde a adolescência a ajudar o próximo: a educadora Iolanda Maltaroli. Uma tarefa louvável que teve um reconhecimento especial neste ano. Em maio, dezenas de personalidades, entre elas a atriz Regina Duarte, o artista plástico Vik Muniz e o humorista Bruno Mazzeo, participaram de um leilão beneficente no Hotel Fasano em prol da iniciativa. O pregão arrecadou 180 000 reais com a venda de obras de arte, um incentivo e tanto para a missão filantrópica de Iolanda. “A atuação em uma área de conflitos me mostrou que a educação é o caminho da paz”, receita. Moradora de Copacabana, ela conheceu o lugar pela primeira vez na manhã do dia 25 de dezembro de 1983, pouco depois de uma enorme caixa-d’água despencar do alto do Pavão-Pavãozinho e causar doze mortes. Acompanhada de seus quatro filhos — entre eles a novelista Andrea Maltaroli, que morreu no ano passado de câncer —, a matriarca levou roupas, alimentos, remédios e conforto naquele triste Natal. Era a semente do projeto que, em 2010, graças aos efeitos positivos da ocupação policial, ampliou de 110 para 150 o número de voluntários. Surgiram também novos apoiadores. A Firjan se juntou a parceiros antigos, caso do escritor Paulo Coelho, que banca 30% das despesas fixas da ONG. “Fui trazida pela penúria das pessoas e o amor delas me deu mais. Mas ainda tenho muito a realizar”, diz ela.




Carnavalesco

Paulo Barros

Quando todos imaginavam que tudo já havia sido feito na Sapucaí, eis que surge um novo mago do Carnaval, com suas ideias mirabolantes e encantadoras



Um truque exibido pela Unidos da Tijuca no primeiro dia de desfiles no Carnaval deste ano deixou a plateia da Avenida Marquês de Sapucaí boquiaberta. Como num passe de mágica, seis mulheres que faziam parte da comissão de frente surgiam com outras roupas num piscar de olhos, à frente da multidão incrédula. Encantado, o público reagiu com os gritos “é campeã, é campeã” assim que a escola cruzou a Praça da Apoteose. Dois dias depois, a agremiação tijucana conquistou, de fato, o primeiro lugar do Grupo Especial. A brincadeira com as roupas das passistas foi ideia do carnavalesco Paulo Barros, de 48 anos. Ex-comissário de bordo, ele estreou na nova profissão em 1994, em uma escola da terceira divisão. Desde então tem feito o diabo. Colocou alegorias de cabeça para baixo, instalou uma bateria inteira sobre um carro e levou até pista de esqui no gelo para a avenida. Barros começou a chamar atenção em 2004, quando apresentou pela primeira vez as chamadas alegorias vivas, na própria Unidos da Tijuca. O emblemático carro alegórico DNA, em que homens e mulheres pintados de azul formavam uma espiral gigante, foi um sopro de inovação quando todas as fórmulas já eram consideradas esgotadas. Levou o vice-campeonato pela ousadia. Com o título de 2010, atingiu o status de celebridade. Passou a ser convidado para dar palestras e montar cenários de peças. Aceitou fazer conferências, mas por enquanto não pensa em trabalhar com teatro. “Não consigo pôr minha criatividade nos limites de um palco”, explica. Nascido em Nilópolis e apaixonado por Carnaval desde menino, Barros é considerado uma espécie de sucessor de Joãozinho Trinta, o mago dos desfiles dos anos 80. Perfeccionista ao extremo, percorre diariamente o Barracão 12, na Cidade do Samba, onde são montadas as alegorias da Unidos da Tijuca. Não raro se empoleira nos carros e assume o equipamento de algum funcionário para mostrar como o serviço deve ser feito. Empenhado em encantar o público novamente no desfile de 2011, com um enredo que fala do medo na história do cinema, o carnavalesco visitou parques da Disney, em Orlando, para se inspirar. Trouxe algumas ideias, mas confessa que as melhores saem daqui mesmo, mais precisamente da Ponte Rio-Niterói. “Foi parado naquele trânsito maldito que criei os carros de que mais me orgulho”, brinca.




Educadora

Luciana Landrino

Com muita dedicação, a pedagoga mostrou que a falta de condições ideais não é obstáculo para o sucesso. Humilde, o colégio municipal do qual é diretora ficou em primeiro lugar no ranking do Ministério da Educação



Localizada no bairro da Penha, a Escola Municipal João de Deus é um lugar sem luxo. Erguida com estrutura pré-fabricada, tem telhado de zinco e não possui quadras esportivas nem laboratórios. Quase todos os alunos são provenientes de famílias humildes que vivem nas favelas da vizinhança, na Zona Norte da cidade. Contrariando todos os prognósticos, o colégio conseguiu uma façanha digna de elogios: arrebatou o primeiro lugar entre as instituições de ensino fundamental do Rio — públicas ou particulares — no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Com treze professores e mais de 300 estudantes, obteve nota 7,8 nas provas, enquanto a média ponderada foi bem menor, 4,7. Por trás dessa magnífica conquista estão a seriedade e a dedicação da pedagoga Luciana Landrino, diretora há duas décadas. “Não há mágica. O que conseguimos é resultado de muito empenho”, diz. Com dificuldades comuns a toda a rede escolar, o colégio alcançou sua espetacular performance graças ao estímulo à leitura, tanto em sala de aula como em casa. “Percebíamos que os alunos aprendiam o conteúdo, sabiam fazer contas, mas tinham dificuldade para compreender os enunciados dos exercícios”, conta. Diante do problema, os pequenos passaram a escolher semanalmente dois volumes na biblioteca e a levar as obras para casa. O esforço foi complementado com saraus de poesia, produção de jornais e um correio interno, em que eles escrevem para os colegas e mestres. Gaúcha de Caxias do Sul, 57 anos, Luciana mudou-se com a família para cá quando ainda era menina. Casada, sem filhos, sua vida é devotada àquela escola. Ela participa de todas as atividades, da organização dos murais à discussão do conteúdo ministrado. Com tanta paixão, tornou-se referência para as crianças daquela localidade. Não raro, um pequeno grupo delas fica em sua sala, ao fim do dia, aguardando a chegada dos pais. “Não é nada fácil. Mas eu me sinto completamente realizada.”




Cientista

Paulo Emílio Valadão de Miranda

Um dos cérebros da Coppe, o engenheiro coordena o projeto do ônibus movido a energia elétrica e hidrogênio, iniciativa pioneira que pode reduzir o barulho e a poluição nas ruas da cidade



Seja na pauta dos governos, seja na das empresas, a sustentabilidade ambiental está na ordem do dia. O tema adquiriu tanta relevância que chegou a embasar uma plataforma de campanha na última eleição presidencial. Professor da Coppe/UFRJ, o engenheiro Paulo Emílio Valadão de Miranda, 58 anos, deu uma gigantesca contribuição ao assunto. É de sua responsabilidade a coordenação de um ambicioso projeto que poderá ser visto em breve nas ruas do Rio: o ônibus verde. Lançado neste ano, o híbrido movido a energia elétrica e hidrogênio é capaz de rodar até 300 quilômetros sem ser recarregado nem consumir uma gota de óleo diesel. Ao contrário dos coletivos barulhentos que rodam pela cidade, ele não emite ruídos nem gases poluentes. Do seu escapamento sai apenas vapor-d’água, enquanto um protótipo convencional despeja 100 toneladas de gás carbônico por ano na atmosfera. “Não estamos discutindo mais uma ideia. Ele está pronto para circular”, garante Miranda. Formado em engenharia metalúrgica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde também fez mestrado e doutorado, e com dois pós-doutorados na França, ele capitaneia uma iniciativa inédita no Hemisfério Sul. Com a aparência de um modelo comum, o veículo começou a ser testado nas ruas do Fundão, na Ilha do Governador. O passo seguinte é usá-lo numa linha entre os aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont. A ideia é que, gradualmente, ele passe a ser adotado por várias empresas até chegar a um número relevante na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016. Um empecilho ainda é o custo: a novidade é seis vezes mais cara que o seu par convencional. Mas o preço tende a cair à medida que o ônibus verde for fabricado em larga escala. “Neste século, o hidrogênio vai desempenhar o papel do petróleo”, aposta Miranda, que quando jovem ficou na dúvida entre medicina, física e engenharia. Ganhou a ciência. E o planeta.




Homenagem especial

Cissa Guimarães

A atriz enfrentou a dor de perder um filho num acidente chocante e, com força surpreendente, retornou aos palcos duas semanas depois



Ninguém simbolizou neste ano o poder de superação como a atriz Cissa Guimarães. Na noite de 20 de julho, ela sofreu a pior tragédia que pode acometer uma mãe. Seu caçula, Rafael Mascarenhas, foi atropelado e morreu aos 18 anos. Ele andava de skate no Túnel Acústico, na Gávea, na hora do acidente fechado para manutenção, e acabou atingido por um motorista que burlou a interdição. Apenas duas semanas após, e evidentemente ainda bastante fragilizada, ela surpreendeu amigos e parentes e retornou aos palcos, decidida a superar o drama. “A perda de um filho é como uma amputação”, compara. “Estou reaprendendo a viver sem ele, e o trabalho me ajuda, é meu oxigênio.” Quando chega ao Teatro do Leblon, onde Doidas e Santas está em cartaz, segue um ritual que começa com uma oração no palco. Antes de entrar em cena, a atriz e seus colegas rezam novamente. No fim da peça, muitos espectadores lhe prestam solidariedade. Cissa sabe que a morte de Rafael é uma dor perpétua. Mas, em nome do compromisso com a vida, ela se cerca de cuidados para lidar com a dor: além de análise, faz terapia do luto. Há algumas semanas, voltou a frequentar a academia de ginástica. Bem ao seu modo esfuziante, reúne os amigos do filho em sua casa todo dia 20, para “celebrar a nova vida do Rafa”, como repete enfaticamente. A relação com os outros filhos, o designer Thomaz, 32, e o ator João, 26, se estreitou. O mais novo voltou a morar com ela. A família agora se empenha em concretizar a homenagem sugerida pelo prefeito Eduardo Paes de batizar o túnel com o nome de Rafael. Os irmãos também tocam com a CET-Rio e a Riotur outro projeto pela memória do rapaz: a criação de um circuito de esporte, arte e lazer em túneis. A proposta é repetir o modelo adotado na orla, que tem uma pista fechada aos domingos para essa finalidade. “Não posso deixar que a partida do Rafael seja só dor, porque ele é pura luz.”

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