segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Brasil tem um novo chefe da sua caixa-forte. Alexandre Tombini irá comandar o Banco Central com dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta da meta e contas externas cada vez mais no vermelho. Ele está à altura do desafio? Por Leonardo Attuch e Denize Bacoccina São pouco mais de 15h30 da quarta-feira 24 e o economista gaúcho Alexandre Tombini chega à sede do Centro Cultural Banco do Brasil, onde funciona a trincheira da transição, em Brasília. Passada firme, olhar seguro e uma única frase planejada sob medida para o evento. “Não existe meia autonomia”, disse Tombini. “Ela é total.” Do alto dos seus 120 quilos, o novo presidente do Banco Central se apresenta como um pit bull pronto para enfrentar dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta do centro da meta de 4,5% e um rombo crescente nas contas externas brasileiras – o déficit de US$ 50 bilhões que vem sendo projetado para este ano deve ser ainda pior em 2011. 47.jpg "Não existe meia autonomia no banco central. Ela é total" Alexandre Tombini, futuro presidente do BC A missão de Tombini, no entanto, vai além do campo macroeconômico. Ele também terá de provar que não será um presidente de Banco Central fraco, subordinado ao Ministério da Fazenda e aos desígnios da presidente eleita, Dilma Rousseff. Daí a necessidade de reafirmar sua liberdade para agir e decidir. E assim como não existe meia gravidez, também não pode haver autonomia pela metade, como pontuou o novo xerife da autoridade monetária. Alexandre Tombini, que é funcionário de carreira do Banco Central, poderia ter chegado ao topo de sua carreira livre do fardo de ter que provar que é independente. Mas as circunstâncias de sua escolha, lamentavelmente, o levaram a isso. Há pouco mais de uma semana, logo depois da confirmação de Guido Mantega como ministro da Fazenda, fontes próximas ao núcleo da transição vazaram a informação de que o atual presidente do BC, Henrique Meirelles, não seria apenas substituído por Dilma. Sua saída, que poderia ser absolutamente natural, foi tratada como uma demissão. Dilma teria ficado indignada com a suposta insinuação de que Meirelles só continuaria no governo se desfrutasse da mesma autonomia que teve nos oito anos de governo Lula. A partir de então, Meirelles passou a ser rifado dia e noite. “Sempre que alguém no governo tenta impor condições, perde a aposta”, disse à DINHEIRO o experiente economista Delfim Netto. 49.jpg Com os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, Alexandre Tombini irá compor o trio do conselho monetário nacional, que define as metas de inflação. Na foto ao lado, com Henrique Meirelles, de quem foi uma espécie de braço-direito no BC Não se sabe se Meirelles, de fato, tentou exigir qualquer coisa da presidente eleita, Dilma Rousseff. Mas o fato é que a autonomia do Banco Central no Brasil é apenas operacional e ainda não foi institucionalizada na lei – em outros países, como os Estados Unidos, presidentes e diretores têm mandatos fixos e não coincidentes com os dos governantes. Aqui, um chefe do BC pode ser demitido a qualquer momento pelo presidente da República. “Agora, vamos ter uma profecia autorrealizável”, disse à DINHEIRO um influente banqueiro de investimentos. “Como se criou incerteza, os juros no mercado futuro subiram e o Tombini terá que se mostrar mais duro do que seria necessário para se afirmar no BC.” A atual taxa de juros no Brasil é de 10,75%, mas, no mercado futuro, os contratos se aproximaram de 12% ao ano. E isso, em tese, poderia retardar o alcance da meta traçada pela presidente eleita, de atingir juros reais de 2% ao ano – hoje, eles estão próximos a 5,5%. Aos 46 anos, Tombini tem plenas condições de superar a turbulência inicial. Graduado pela Universidade de Brasília e com doutorado em Illinois, nos Estados Unidos, ele é considerado um macroeconomista de formação sólida e é tão ou mais conservador do que Meirelles. Os votos dos dois costumavam estar sempre alinhados nas reuniões do Comitê de Política Monetária. Além disso, no período em que cogitou deixar o BC para se lançar na carreira política, Meirelles sempre demonstrou preocupação em organizar a própria sucessão – Tombini era o seu candidato. “O nome de Tombini significa continuidade da atual gestão, pois ele ajudou a criar o regime de metas. Mas a continuidade não garante o mesmo resultado”, diz Rafael Cortez, analista da consultoria Tendências. Não se trata apenas de vencer o jogo das expectativas no mercado. Tombini também tem o desafio de suceder alguém que ficou oito anos no BC – Meirelles foi o mais longevo presidente da história da instituição – e se tornou um nome praticamente consensual aos olhos dos investidores. Além do mais, os resultados comprovam que sua gestão foi bem-sucedida. Ele herdou uma inflação em 12% e a entrega ao redor de 5%. O risco Brasil caiu de dois mil para os atuais 140 pontos, a moeda nacional se valorizou, o crédito disparou e a valorização dos ativos brasileiros esteve entre as maiores do mundo. 54.jpg Além disso, bom comunicador que é, Meirelles se tornou um protagonista da economia global, recebeu prêmios com frequência de entidades ligadas ao sistema financeiro, passou a dar conferências sobre a crise internacional e hoje integra o conselho do BIS, na Suíça, uma espécie de banco central dos bancos centrais. Tombini é bem mais tímido. Fala baixo, não gosta de conceder entrevistas e nunca divulgou seu currículo ou manteve qualquer perfil em redes sociais – mesmo as de caráter profissional, como o Linkedin. Seus colegas da UnB lembram-se apenas de um bom aluno, mas extremamente quieto e recatado. Flavio Versiani, que foi seu professor na graduação, lembra do futuro presidente do Banco Central como um bom aluno. “Ele se destacava. Lembro que à época me deixou uma impressão muito boa”, conta. O professor se recorda de quando o aluno deixou a Universidade de Brasília para estudar nos Estados Unidos para, depois, voltar à UnB como pesquisador. “Foi um dos que estudaram e teorizaram sobre o regime de metas. É um cara competente”, atesta. Também professor do departamento de economia da UnB, Charles Mueller conheceu Tombini em Illinois, quando o economista fazia seu doutorado na universidade local. “Ele foi considerado um aluno brilhante por lá. É um sujeito competente e de boa índole”, lembra Mueller. 53.jpg No trabalho, é afável, mas reservado e afeito a formalidades com os colegas. Quem já trabalhou com o economista o tem como um profissional meticuloso e flexível, porém firme na cobrança de resultados – sem pendores para arroubos ou grosserias. A padronização das tarifas bancárias, imposta às instituições financeiras pelo BC, a pedido do Ministério Público e de órgãos de defesa do consumidor, é também atribuída a um esforço pessoal de Tombini. “O banco não tinha muita gente interessada no assunto e ele mostrou sensibilidade”, avalia um antigo funcionário do BC. “Ganhou pontos com a ala desenvolvimentista.” Filho de um economista das Nações Unidas, Tombini nasceu na pequena cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul, mas passou a infância entre Paraguai, Guatemala, Costa Rica e Chile. Na adolescência, viveu em Porto Alegre, onde seguiu a tradição da família e se tornou torcedor fanático do Internacional. No fim dos anos 70, o pai, Tildo, foi trabalhar em Brasília e levou a família. Tombini ficou na capital, onde se formou em economia em 1984. Foi durante a temporada nos Estados Unidos que conheceu a americana Michele, com quem se casou. Eles têm dois filhos, hoje com 13 e 9 anos. No dia em que foi escolhido para o posto mais importante da sua carreira até agora, Tombini seguiu uma rotina normal: chegou à sede do Banco Central pouco depois das 9 horas e teve reuniões internas. 50.jpg Sede do BC, em Brasília Tombini chefiará 4,7 mil funcionários e estará à frente da política de aplicação das reservas de US$ 285 bilhões No meio da tarde, seguiu para o Centro Cultural Banco do Brasil, onde pouco antes das 17h fez um curto discurso. Com voz suave e em tom baixo, relatou uma conversa que teve com a presidente eleita, Dilma Rousseff, quando ela lhe garantiu que está comprometida com a autonomia operacional do Banco Central. Depois, voltou ao banco e continuou a trabalhar com a discrição de sempre. Sua indicação também representa uma vitória institucional – é a primeira vez que o BC tem uma diretoria formada exclusivamente por quadros de carreira, como ocorre em bancos centrais de muitos países de moeda forte, como o Bundesbank, da Alemanha. Tombini ainda terá que ser sabatinado pelo Senado, mas sua aprovação é tida como certa. Como guardião da moeda brasileira, ele terá que trazer o IPCA de novo ao centro da meta de 4,5%. O IGPM, anualizado, já aponta para uma inflação próxima a 10% ao ano, um território bem mais perigoso. “Os dados vêm mostrando que a alta não é só dos alimentos, mas há também uma piora nos núcleos, reflexo de inflação de demanda”, disse à DINHEIRO a economista-chefe no Brasil da RBS Global Banking & Market, Zeina Latif. O relatório Focus, resultado de pesquisa semanal do Banco Central com economistas do mercado financeiro, mostra alta na expectativa de inflação para este ano há dez semanas consecutivas. Em 17 de setembro, os analistas projetavam um IPCA de 5,01% neste ano. No dia 19, havia subido para 5,58%. No acumulado de 12 meses até outubro, o índice ficou em 5,20%. 55.jpg “A indústria está trabalhando com taxas de ocupação elevadas, e ainda temos desemprego baixo e massa salarial em expansão”, diz Aquiles Rocha de Farias, professor de economia e mercado financeiro do Ibmec. Ele aposta que na reunião de dezembro, que ainda será presidida por Meirelles, o Copom deverá aumentar a taxa de juros para atacar a inflação e reafirmar sua independência. O economista e consultor Roberto Troster também defende uma elevação da taxa de juros na última reunião do Copom no ano, logo no início de dezembro. “Quanto mais cedo se sofre, menor é o custo da alta. E Tombini assume com menos pressão”, considera. Mas nem todos têm a mesma expectativa. “O novo Banco Central terá o suporte político para elevar a taxa de juros nos primeiros meses do próximo governo?”, indaga Marcelo Salomon, economista-chefe para o Brasil do Barclays. O economista Delfim Netto, por sua vez, aposta que o “pudim de coco” está chegando ao fim. Ele se refere ao longo ciclo que o Brasil viveu como o País das mais altas taxas de juros do mundo. “Os investidores terão que começar a ganhar a vida honestamente”, diz ele. Na prática, Tombini terá de se equilibrar entre as expectativas dos que esperam um BC mais alinhado com o compromisso de reduzir os juros e daqueles que se dizem assustados com o ritmo da inflação. E sua credibilidade será construída mais pelas ações do que pelas palavras. Com reportagem de Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges Eles têm a missão de gastar (um pouco menos) Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges “É possível fazer mais com menos”, resumiu Miriam Belchior, na tarde da quarta-feira 24, quando foi apresentada como ministra do Planejamento do governo Dilma. A frase resume o tom de moderação nos gastos adotado pela equipe econômica do governo Dilma. A ordem é “pesar a mão” na contenção de despesas de custeio e liberar orçamento para investimentos e obras incluídas no PAC. A parcimônia inclui dois órgãos tradicionalmente gastadores: o Planejamento, que agora vai gerenciar as obras do PAC, com orçamento de R$ 1,59 trilhão até 2014, e o BNDES, financiador da política industrial do governo, que até outubro deste ano liberou R$ 140,9 bilhões. 51.jpg Miriam Belchior: À frente do Orçamento e com o cofre do PAC O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vai continuar no comando da instituição, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que o banco terá menos recursos do Tesouro. “Com isso, estamos abrindo espaço para que o setor privado possa fazer empréstimos de longo prazo”, disse Mantega, durante a apresentação da equipe na quarta-feira 24. O ministro calcula que o corte de R$ 20 bilhões no Orçamento de 2011 vai reduzir em pelo menos R$ 50 bilhões os repasses ao banco de desenvolvimento, que foi capitalizado em R$ 180 bilhões nos últimos dois anos. “Essa diminuição criará condições para queda mais rápida da taxa de juros”, completou. Depois de coordenar o PAC na Casa Civil, Miriam muda de cargo levando de baixo do braço a carteira de projetos para o Planejamento. Apesar de os investimentos do PAC serem prioridade nos gastos do governo, que pretende dobrar até 2014 a atual taxa de investimento público de 2,2%, ela também prometeu um esforço para segurar os gastos com a máquina administrativa. “Vamos ser parceiros da Fazenda na consolidação fiscal”, prometeu a futura ministra. 52.jpg Luciano Coutinho: Ele já foi avisado de que o BNDES terá menos recursos A indicação de Antônio Palocci para a Casa Civil, que até a noite da quinta-feira 25 ainda não havia sido confirmada oficialmente, reforça a percepção de contenção de gastos no futuro governo. Embora desidratado de algumas de suas funções atuais, como a coordenação do PAC, o posto deve conferir a Palocci a condição de homem forte do governo, encarregado da coordenação política e da relação da futura presidente com partidos aliados e da oposição. Tarefas que ele já vem desempenhando no período de transição.

O Brasil tem um novo chefe da sua caixa-forte. Alexandre Tombini irá comandar o Banco Central com dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta da meta e contas externas cada vez mais no vermelho. Ele está à altura do desafio?

Por Leonardo Attuch e Denize Bacoccina
São pouco mais de 15h30 da quarta-feira 24 e o economista gaúcho Alexandre Tombini chega à sede do Centro Cultural Banco do Brasil, onde funciona a trincheira da transição, em Brasília. 
Passada firme, olhar seguro e uma única frase planejada sob medida para o evento. “Não existe meia autonomia”, disse Tombini. “Ela é total.” Do alto dos seus 120 quilos, o novo presidente do Banco Central se apresenta como um pit bull pronto para enfrentar dois desafios imediatos: uma inflação que se afasta do centro da meta de 4,5% e um rombo crescente nas contas externas brasileiras – o déficit de US$ 50 bilhões que vem sendo projetado para este ano deve ser ainda pior em 2011. 
 
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"Não existe meia autonomia no banco central. Ela é total"
Alexandre Tombini, futuro presidente do BC
 
A missão de Tombini, no entanto, vai além do campo macroeconômico. Ele também terá de provar que não será um presidente de Banco Central fraco, subordinado ao Ministério da Fazenda e aos desígnios da presidente eleita, Dilma Rousseff. 
 
Daí a necessidade de reafirmar sua liberdade para agir e decidir. E assim como não existe meia gravidez, também não pode haver autonomia pela metade, como pontuou o novo xerife da autoridade monetária.
 
Alexandre Tombini, que é funcionário de carreira do Banco Central, poderia ter chegado ao topo de sua carreira livre do fardo de ter que provar que é independente. Mas as circunstâncias de sua escolha, lamentavelmente, o levaram a isso. 
 
Há pouco mais de uma semana, logo depois da confirmação de Guido Mantega como ministro da Fazenda, fontes próximas ao núcleo da transição vazaram a informação de que o atual presidente do BC, Henrique Meirelles, não seria apenas substituído por Dilma. 
 
Sua saída, que poderia ser absolutamente natural, foi tratada como uma demissão. Dilma teria ficado indignada com a suposta insinuação de que Meirelles só continuaria no governo se desfrutasse da mesma autonomia que teve nos oito anos de governo Lula. 
A partir de então, Meirelles passou a ser rifado dia e noite. “Sempre que alguém no governo tenta impor condições, perde a aposta”, disse à DINHEIRO o experiente economista Delfim Netto.
 
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Com os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, Alexandre Tombini irá compor o trio do conselho monetário nacional,
que define as metas de inflação. Na foto ao lado, com Henrique Meirelles, de quem foi uma espécie de braço-direito no BC
 
Não se sabe se Meirelles, de fato, tentou exigir qualquer coisa da presidente eleita, Dilma Rousseff. Mas o fato é que a autonomia do Banco Central no Brasil é apenas operacional e ainda não foi institucionalizada na lei – em outros países, como os Estados Unidos, presidentes e diretores têm mandatos fixos e não coincidentes com os dos governantes. Aqui, um chefe do BC pode ser demitido a qualquer momento pelo presidente da República. “Agora, vamos ter uma profecia autorrealizável”, disse à DINHEIRO um influente banqueiro de investimentos. 
 
“Como se criou incerteza, os juros no mercado futuro subiram e o Tombini terá que se mostrar mais duro do que seria necessário para se afirmar no BC.” A atual taxa de juros no Brasil é de 10,75%, mas, no mercado futuro, os contratos se aproximaram de 12% ao ano. E isso, em tese, poderia retardar o alcance da meta traçada pela presidente eleita, de atingir juros reais de 2% ao ano – hoje, eles estão próximos a 5,5%.
 
Aos 46 anos, Tombini tem plenas condições de superar a turbulência inicial. Graduado pela Universidade de Brasília e com doutorado em Illinois, nos Estados Unidos, ele é considerado um macroeconomista de formação sólida e é tão ou mais conservador do que Meirelles. Os votos dos dois costumavam estar sempre alinhados nas reuniões do Comitê de Política Monetária. Além disso, no período em que cogitou deixar o BC para se lançar na carreira política, Meirelles sempre demonstrou preocupação em organizar a própria sucessão – Tombini era o seu candidato. 
 
“O nome de Tombini significa continuidade da atual gestão, pois ele ajudou a criar o regime de metas. Mas a continuidade não garante o mesmo resultado”, diz Rafael Cortez, analista da consultoria Tendências. 
 
Não se trata apenas de vencer o jogo das expectativas no mercado. Tombini também tem o desafio de suceder alguém que ficou oito anos no BC – Meirelles foi o mais longevo presidente da história da instituição – e se tornou um nome praticamente consensual aos olhos dos investidores.
 
Além do mais, os resultados comprovam que sua gestão foi bem-sucedida. Ele herdou uma inflação em 12% e a entrega ao redor de 5%. O risco Brasil caiu de dois mil para os atuais 140 pontos, a moeda nacional se valorizou, o crédito disparou e a valorização dos ativos brasileiros esteve entre as maiores do mundo.
 
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Além disso, bom comunicador que é, Meirelles se tornou um protagonista da economia global, recebeu prêmios com frequência de entidades ligadas ao sistema financeiro, passou a dar conferências sobre a crise internacional e hoje integra o conselho do BIS, na Suíça, uma espécie de banco central dos bancos centrais.
 
Tombini é bem mais tímido. Fala baixo, não gosta de conceder entrevistas e nunca divulgou seu currículo ou manteve qualquer perfil em redes sociais – mesmo as de caráter profissional, como o Linkedin. Seus colegas da UnB lembram-se apenas de um bom aluno, mas extremamente quieto e recatado. Flavio Versiani, que foi seu professor na graduação, lembra do futuro presidente do Banco Central como um bom aluno. 
 
“Ele se destacava. Lembro que à época me deixou uma impressão muito boa”, conta. O professor se recorda de quando o aluno deixou a Universidade de Brasília para estudar nos Estados Unidos para, depois, voltar à UnB como pesquisador. 
 
“Foi um dos que estudaram e teorizaram sobre o regime de metas. É um cara competente”, atesta. Também professor do departamento de economia da UnB, Charles Mueller conheceu Tombini em Illinois, quando o economista fazia seu doutorado na universidade local. “Ele foi considerado um aluno brilhante por lá. É um sujeito competente e de boa índole”, lembra Mueller.
 
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No trabalho, é afável, mas reservado e afeito a formalidades com os colegas. Quem já trabalhou com o economista o tem como um profissional meticuloso e flexível, porém firme na cobrança de resultados – sem pendores para arroubos ou grosserias. 
 
A padronização das tarifas bancárias, imposta às instituições financeiras pelo BC, a pedido do Ministério Público e de órgãos de defesa do consumidor, é também atribuída a um esforço pessoal de Tombini. “O banco não tinha muita gente interessada no assunto e ele mostrou sensibilidade”, avalia um antigo funcionário do BC. “Ganhou pontos com a ala desenvolvimentista.”
 
Filho de um economista das Nações Unidas, Tombini nasceu na pequena cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul, mas passou a infância entre Paraguai, Guatemala, Costa Rica e Chile. 
 
Na adolescência, viveu em Porto Alegre, onde seguiu a tradição da família e se tornou torcedor fanático do Internacional. No fim dos anos 70, o pai, Tildo, foi trabalhar em Brasília e levou a família. Tombini ficou na capital, onde se formou em economia em 1984. Foi durante a temporada nos Estados Unidos que conheceu a americana Michele, com quem se casou. Eles têm dois filhos, hoje com 13 e 9 anos.
 
No dia em que foi escolhido para o posto mais importante da sua carreira até agora, Tombini seguiu uma rotina normal: chegou à sede do Banco Central pouco depois das 9 horas e teve reuniões internas. 
 
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Sede do BC, em Brasília Tombini chefiará 4,7 mil funcionários e estará
à frente da política de aplicação das reservas de US$ 285 bilhões
 
No meio da tarde, seguiu para o Centro Cultural Banco do Brasil, onde pouco antes das 17h fez um curto discurso. Com voz suave e em tom baixo, relatou uma conversa que teve com a presidente eleita, Dilma Rousseff, quando ela lhe garantiu que está comprometida com a autonomia operacional do Banco Central. 
 
Depois, voltou ao banco e continuou a trabalhar com a discrição de sempre. Sua indicação também representa uma vitória institucional – é a primeira vez que o BC tem uma diretoria formada exclusivamente por quadros de carreira, como ocorre em bancos centrais de muitos países de moeda forte, como o Bundesbank, da Alemanha.
 
Tombini ainda terá que ser sabatinado pelo Senado, mas sua aprovação é tida como certa. Como guardião da moeda brasileira, ele terá que trazer o IPCA de novo ao centro da meta de 4,5%. 
 
O IGPM, anualizado, já aponta para uma inflação próxima a 10% ao ano, um território bem mais perigoso. “Os dados vêm mostrando que a alta não é só dos alimentos, mas há também uma piora nos núcleos, reflexo de inflação de demanda”, disse à DINHEIRO a economista-chefe no Brasil da RBS Global Banking & Market, Zeina Latif.
 
O relatório Focus, resultado de pesquisa semanal do Banco Central com economistas do mercado financeiro, mostra alta na expectativa de inflação para este ano há dez semanas consecutivas. 
 
Em 17 de setembro, os analistas projetavam um IPCA de 5,01% neste ano. No dia 19, havia subido para 5,58%. No acumulado de 12 meses até outubro, o índice ficou em 5,20%. 
 
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“A indústria está trabalhando com taxas de ocupação elevadas, e ainda temos desemprego baixo e massa salarial em expansão”, diz Aquiles Rocha de Farias, professor de economia e mercado financeiro do Ibmec. Ele aposta que na reunião de dezembro, que ainda será presidida por Meirelles, o Copom deverá aumentar a taxa de juros para atacar a inflação e reafirmar sua independência.
 
O economista e consultor Roberto Troster também defende uma elevação da taxa de juros na última reunião do Copom no ano, logo no início de dezembro. “Quanto mais cedo se sofre, menor é o custo da alta. E Tombini assume com menos pressão”, considera. Mas nem todos têm a mesma expectativa. 
 
“O novo Banco Central terá o suporte político para elevar a taxa de juros nos primeiros meses do próximo governo?”, indaga Marcelo Salomon, economista-chefe para o Brasil do Barclays. 
 
O economista Delfim Netto, por sua vez, aposta que o “pudim de coco” está chegando ao fim. Ele se refere ao longo ciclo que o Brasil viveu como o País das mais altas taxas de juros do mundo. 
 
“Os investidores terão que começar a ganhar a vida honestamente”, diz ele. Na prática, Tombini terá de se equilibrar entre as expectativas dos que esperam um BC mais alinhado com o compromisso de reduzir os juros e daqueles que se dizem assustados com o ritmo da inflação. E sua credibilidade será construída mais pelas ações do que pelas palavras.
 
Com reportagem de Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges
 
 
Eles têm a missão de gastar (um pouco menos)
 
Guilherme Queiroz e Rodolfo Borges
 
“É possível fazer mais com menos”, resumiu Miriam Belchior, na tarde da quarta-feira 24, quando foi apresentada como ministra do Planejamento do governo Dilma. A frase resume o tom de moderação nos gastos adotado pela equipe econômica do governo Dilma.
 
A ordem é “pesar a mão” na contenção de despesas de custeio e liberar orçamento para investimentos e obras incluídas no PAC. A parcimônia inclui dois órgãos tradicionalmente gastadores: o Planejamento, que agora vai gerenciar as obras do PAC, com orçamento de R$ 1,59 trilhão até 2014, e o BNDES, financiador da política industrial do governo, que até outubro deste ano liberou R$ 140,9 bilhões.
 
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Miriam Belchior: À frente do Orçamento e com o cofre do PAC
 
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vai continuar no comando da instituição, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que o banco terá menos recursos do Tesouro. 
 
“Com isso, estamos abrindo espaço para que o setor privado possa fazer empréstimos de longo prazo”, disse Mantega, durante a apresentação da equipe na quarta-feira 24. O ministro calcula que o corte de R$ 20 bilhões no Orçamento de 2011 vai reduzir em pelo menos R$ 50 bilhões os repasses ao banco de desenvolvimento, que foi capitalizado em R$ 180 bilhões nos últimos dois anos. “Essa diminuição criará condições para queda mais rápida da taxa de juros”, completou.
 
Depois de coordenar o PAC na Casa Civil, Miriam muda de cargo levando de baixo do braço a carteira de projetos para o Planejamento. Apesar de os investimentos do PAC serem prioridade nos gastos do governo, que pretende dobrar até 2014 a atual taxa de investimento público de 2,2%, ela também prometeu um esforço para segurar os gastos com a máquina administrativa. “Vamos ser parceiros da Fazenda na consolidação fiscal”, prometeu a futura ministra. 
 
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Luciano Coutinho: Ele já foi avisado de que o BNDES terá menos recursos
 
A indicação de Antônio Palocci para a Casa Civil, que até a noite da quinta-feira 25 ainda não havia sido confirmada oficialmente, reforça a percepção de contenção de gastos no futuro governo. 
 
Embora desidratado de algumas de suas funções atuais, como a coordenação do PAC, o posto deve conferir a Palocci a condição de homem forte do governo, encarregado da coordenação política e da relação da futura presidente com partidos aliados e da oposição. Tarefas que ele já vem desempenhando no período de transição.

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