Yoi! Roll’s & Temaki, na Alameda Campinas: as promoções em restaurantes japoneses estão entre as mais procuradas
por Divulgação
O empresário Helio Poli está todo prosa. Há dez anos, ele abriu, ao lado de três sócios, a primeira unidade da rede de lanchonetes Big X Picanha, na Rua Henrique Schaumann. Desde então, não poupa investimentos na exposição da marca em propagandas de TV e anúncios em jornais e revistas. Jamais vivenciou, porém, fenômeno parecido com o do último dia 29 de outubro. Nessa data, o site de compras coletivas Peixe Urbano pôs no ar uma oferta da lanchonete: sanduíche e petit gâteau de 26,80 reais por 7,90 reais. “De tantos acessos, a página travou”, conta Poli. Em dezessete horas, 30 512 cupons promocionais foram vendidos. Trata-se do caso de maior sucesso no setor de gastronomia entre os sites do gênero, que oferecem a uma base de usuários cadastrados descontos de até 90% em restaurantes, hotéis, peças de teatro e massagens, entre outros.
Para desfrutar o serviço, deve-se pagar, imprimir um cupom e entregá-lo no estabelecimento. “Sabia que tinha condições de ser o recordista”, diz Poli. “Pesquisei muito antes de entrar nessa.” Ele levou seis meses até tomar a decisão de cair na rede dos descontos on-line. Para dar conta de receber tanta gente, contratou quarenta funcionários extras para as quatro lanchonetes de rua (a promoção não valia em dezesseis unidades franqueadas).
Fernando Moraes
Helio Poli, na unidade do Big X Picanha no Tatuapé: quarenta funcionários extras para atender à demanda
As páginas de descontos vêm se multiplicando em ritmo acelerado. Pioneiro no Brasil, o Peixe Urbano estreou no Rio de Janeiro oito meses atrás. Logo desembarcou em São Paulo seguido por alguns concorrentes. Há dois meses, entre trinta e quarenta sites do tipo estavam no ar. “Hoje, já são mais de 100, todos eles com operações na capital”, afirma o publicitário Guilherme Wroclawski, criador do SaveMe, espécie de agregador de ofertas que ajuda o internauta a checar com maior praticidade as dezenas de promoções diárias lançadas on-line na cidade.
Segundo pesquisa do Ibope Nielsen Online, as páginas de compras coletivas atingiram 5,6 milhões de usuários únicos no mês de setembro — um crescimento de 231% em relação a junho. A expectativa é que as empresas fechem o ano com cerca de 7 milhões de usuários, mais de 2 milhões deles em São Paulo. Até dezembro, o setor deve movimentar 80 milhões de reais. Em 2011, espera-se alcançar a casa dos 500 milhões de reais.
O TESTE DOS DESCONTOS NOS RESTAURANTES
Entre quinta (18) e terça (23), visitamos seis casas paulistanas que anunciaram promoções em sites nas últimas semanas
Juntas, as três maiores empresas, ClickOn, Groupon e Peixe Urbano, detêm 90% do mercado. Cada uma chama para si o título de número 1 valendo-se de métricas variadas (número de cadastrados, de visitas únicas, faturamento...). Diante da concorrência acirrada, elas disputam mordida a mordida a fatia mais saborosa desse mercado: os restaurantes, cafeterias, sorveterias, bares e lanchonetes. Lugares como Forneria San Paolo, Nakombi, 1900, Piola, Quattrino e Applebee’s já incluíram as promoções em seu cardápio. Seguidas de perto pelas pizzarias, as casas de comida japonesa são as que fazem mais sucesso entre os paulistanos.
Mas fechar negócio com alguns desses estabelecimentos requer tempo e habilidade. Primeiramente, a equipe comercial do site, responsável por rastrear endereços interessantes, tenta um contato telefônico com o proprietário. Liga insistentemente até conseguir marcar uma reunião. “Ao vivo, a argumentação funciona melhor”, acredita Ricardo Bottura, representante de vendas do Peixe Urbano. Durante a negociação, é preciso acertar questões importantes como o preço, o limite de cupons e os dias da semana em que a promoção será válida.
Fernando Moraes
Parceria: Ricardo Bottura, vendedor do Peixe Urbano, negociou pizzas de 49,90 reais por 15 reais com Franco Ravioli, da Pizza Bros.
Firma parceria o site que apresentar a melhor proposta. Peixe Urbano e Groupon, por exemplo, utilizam o mesmo modelo de negócio: dividem o valor da oferta vendida meio a meio com o estabelecimento. Já o ClickOn cobra 30% de comissão. “Acima de tudo, trata-se de uma ferramenta de marketing”, explica Marcelo Macedo, CEO do ClickOn, empresa que opera também o site de compras coletivas Bananarama, da Editora Abril, que publica VEJA SÃO PAULO. Os restaurantes dificilmente perdem dinheiro com a promoção. Quem vai gasta com bebida e outros produtos e pode levar ainda um acompanhante, o que acaba equilibrando a conta.
Fernando Moraes
A representante do P.J. Clarke’s no Brasil, Maria Rita Pikielny: forma alternativa de divulgação
O vendedor Ricardo Bottura precisou de lábia para convencer Franco Ravioli, proprietário da Pizza Bros., no Itaim Bibi, a bater o martelo. No início de outubro, anunciaram uma pizza grande de 49,90 reais por 15 reais. Exatos 4 728 cupons foram vendidos. “Cerca de 20% das pessoas já retornaram”, comemora Ravioli.
Para que a ação pontual tenha como consequência o aumento de movimento a longo prazo, o restaurante deve caprichar no atendimento e na qualidade do serviço. Representante do P.J. Clarke’s no Brasil, Maria Rita Pikielny usa os sites de desconto para divulgar novidades. Isso porque a matriz americana, fundada há 126 anos em Nova York, não permite nenhum tipo de publicidade paga. “Encontrei aí uma alternativa”, afirma. Em junho, ela ofertou o recém-lançado café da manhã nos fins de semana (de 30 reais por 15 reais) no Imperdível. Comercializou 220 vouchers — número multiplicado por dez em sua segunda promoção, em parceria com a mesma empresa, três meses depois. Na ocasião, vendeu 2 200 hambúrgueres, de 34,90 reais por 17 reais. Em breve, Maria Rita pretende anunciar os drinques e petiscos do bar inaugurado no fim de outubro. “Será uma maneira de atrair esse público de internet, jovem e antenado.”
Fernando Moraes
Consumidora voraz: a advogada Patrícia Jardim usa planilhas e pastas para organizar seus 194 cupons
De acordo com os dados do Ibope Nielsen Online, a idade dos internautas que acessam sites de compras coletivas varia de 25 a 34 anos. Em número de usuários únicos, mulheres e homens praticamente empatam. Mas cerca de 70% das compras convertidas são de responsabilidade delas.
Cadastrada em 23 páginas de compras coletivas, a advogada Patrícia Gomes Jardim gasta cerca de 1 000 reais por mês com a brincadeira e, até o último dia 19, havia comprado sozinha nada menos do que 194 cupons. “Antes, fazia sempre os mesmos programas banais, vivia no shopping”, diz. “Agora conheço muito mais lugares.” Para organizar seus compromissos, Patrícia criou planilhas diferentes no computador para cada um dos sites. Nas tabelas, digita o número de vouchers comprados, o serviço adquirido, o preço, a data de expiração e até a avaliação do atendimento. Sem contar as três pastinhas coloridas que mantém sempre à mão na mesa de seu escritório. Na verde, Patrícia coloca os cupons logo depois de imprimi-los. Na amarela, guarda aqueles cuja utilização está agendada (por exemplo, o de um restaurante onde fez reserva). Por fim, na vermelha, arquiva cartões e folhetos de estabelecimentos de que gostou.
Fernando Moraes
O empresário Cristiano Morozino: almoços mais em conta com a turma do escritório
Patrícia tem uma queda por ofertas gastronômicas. Mas é eclética. “Já comprei mapa astral, curso de etiqueta e um cruzeiro de três dias”, diverte-se. Mais comedido, o empresário Cristiano Morozino tem conseguido fazer bonito perante seus funcionários sem extrapolar o orçamento. Pelo menos uma vez por mês, reúne toda a equipe de sua agência especializada em web para um almoço conjunto. Dia desses, foram à lanchonete Achapa, nos Jardins. Aproveitaram a promoção do Clube do Desconto e pagaram 5 reais para consumir 18 reais em qualquer item do menu. “A economia é considerável, sobretudo para um grupo grande.”
Fernando Moraes
Henri Zylberstajn, André Zukerman e Ivan Martinho, criadores do Bom Proveito: apenas ofertas gastronômicas
Explorar a cidade a preços convidativos. Está aí a vantagem das compras coletivas para o consumidor. Porém, como se trata de uma aquisição motivada também pelo impulso, deve-se ficar atento a alguns fatores. A aceitação desse tipo de negócio por aqui surpreendeu os executivos do Groupon, empresa americana líder mundial do setor, fundada em 2008 e presente em mais de 200 cidades. Para eles, São Paulo representa hoje o terceiro mercado do planeta, atrás de Paris e Londres.
“Ao contrário do americano, o brasileiro não tinha a cultura de usar cupons de descontos”, afirma Daniel Funis, diretor de marketing do braço brasileiro do site, instalado na Avenida Paulista, onde trabalham 160 funcionários. “Mesmo assim, o sistema acabou adotado aqui com uma velocidade única.” Com o esquema popularizado, a proliferação das páginas foi questão de tempo. Além das já citadas anteriormente, destacam-se entre as maiores Oferta Única, CityBest, Oferta X, Groupalia, Click Cupom e Tripular.
Fernando Moraes
Marcelo Macedo, CEO do ClickOn: 77 000 vouchers vendidos por mês na cidade
Em meio a tantas opções, três jovens empresários paulistanos encontraram um modo de se diferenciar. André Zukerman, Henri Zylberstajn e Ivan Martinho aproveitaram a expertise adquirida com a companhia de leilões on-line que mantêm há três anos para criar o Bom Proveito, apenas com ofertas gastronômicas. “Queremos ser uma espécie de butique dos sites de compras coletivas”, afirma Zukerman. Para alcançarem o objetivo, eles buscam parceiros comerciais de interesse das classes A e B e promovem treinamento nos bares, restaurantes e cafés para orientar gerentes e garçons sobre o atendimento ao cliente. “A segmentação é o futuro desse tipo de negócio”, acredita Zylberstajn. Empolgado com o sucesso, Helio Poli, o novo rei dos sanduíches on-line, concorda. “Estou pensando até em criar um site nosso, tipo um Big X Picanha Urbano.” Pelo visto, muitas ofertas degustação ainda vêm por aí. E de bandeja.
PARA O BARATO NÃO SAIR CARO
Fique atento às dicas dos especialistas e evite cair em roubadas
Fique atento às dicas dos especialistas e evite cair em roubadas
Na hora da compra coletiva
■ Busque indicações de outras pessoas que possam atestar a credibilidade do site
■ Leia atentamente os termos de uso antes de aceitá-los e completar o cadastro na página
■ Informe-se sobre a política de privacidade da empresa para saber como os dados pessoais fornecidos serão utilizados
■ Cheque se a página de pagamento opera em ambiente de navegação seguro e possui certificados digitais de segurança
■ Esteja ciente das limitações impostas antes de pagar. Ressalvas ao uso do serviço com desconto (dia da semana, horário, validade etc.) devem ser informadas previamente
■ Verifique a prática da empresa em caso de desistência da compra. Por lei, para aquisições efetuadas via internet há o chamado “direito de arrependimento”, que garante ao consumidor o prazo de sete dias para exigir o cancelamento do serviço e a devolução do dinheiro sem prestar nenhuma justificativa
■ Toda empresa deve manter um canal de comunicação com o consumidor, seja por e-mail, seja por telefone
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■ Verifique a prática da empresa em caso de desistência da compra. Por lei, para aquisições efetuadas via internet há o chamado “direito de arrependimento”, que garante ao consumidor o prazo de sete dias para exigir o cancelamento do serviço e a devolução do dinheiro sem prestar nenhuma justificativa
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No restaurante
■ Se o estabelecimento se recusar a receber o cupom, a empresa que intermediou a compra coletiva responderá pela recusa
■ Cabe ao restaurante cumprir as condições prometidas. Caso isso não ocorra, pode-se denunciá-lo aos órgãos de proteção e defesa do consumidor, exigir ressarcimento e, em alguns casos, indenização
■ O valor do cupom (pago via internet) deve vir descrito na nota fiscal e ser abatido na hora do pagamento da conta. O voucher não tem valor fiscal
■ Cabe ao restaurante cumprir as condições prometidas. Caso isso não ocorra, pode-se denunciá-lo aos órgãos de proteção e defesa do consumidor, exigir ressarcimento e, em alguns casos, indenização
■ O valor do cupom (pago via internet) deve vir descrito na nota fiscal e ser abatido na hora do pagamento da conta. O voucher não tem valor fiscal
Fontes: Patricia Peck Pinheiro, advogada especialista em direito digital, e Sérgio Tannuri, advogado especialista em direito do consumidor
CLIQUE A CLIQUE
Entenda como começar a fazer suas compras coletivas
■ Cada site lança, em média, duas ofertas diárias. São promoções-relâmpago, que ficam no ar de um a três dias
■ Antes de realizar uma compra, é necessário se cadastrar. As empresas costumam enviar e-mails com as oportunidades do dia para sua base de clientes
■ Gostou da oferta? Leia atentamente o regulamento e, se estiver de acordo, clique no botão de compra
■ Os usuários precisam efetuar o login para prosseguir. Chega-se, então, à página de pagamentos (nesse momento, um novo cadastro dos dados pessoais
pode ser solicitado)
■ Em geral, paga-se com cartão de crédito. Alguns sites oferecem a opção de realizar uma transferência bancária
■ Para que a venda seja concluída é necessário reunir um número mínimo de compradores (por isso o conceito de compra coletiva)
■ Por e-mail, o usuário recebe a confirmação de pagamento e o cupom. Dependendo da empresa, ele pode ficar disponível em alguns minutos, no dia seguinte ou em até dois dias
■ Deve-se imprimir o cupom e entregá-lo no estabelecimento para aproveitar o serviço
■ Antes de realizar uma compra, é necessário se cadastrar. As empresas costumam enviar e-mails com as oportunidades do dia para sua base de clientes
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pode ser solicitado)
■ Em geral, paga-se com cartão de crédito. Alguns sites oferecem a opção de realizar uma transferência bancária
■ Para que a venda seja concluída é necessário reunir um número mínimo de compradores (por isso o conceito de compra coletiva)
■ Por e-mail, o usuário recebe a confirmação de pagamento e o cupom. Dependendo da empresa, ele pode ficar disponível em alguns minutos, no dia seguinte ou em até dois dias
■ Deve-se imprimir o cupom e entregá-lo no estabelecimento para aproveitar o serviço
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